fevereiro 29, 2008

Mais uma Capa Estapafúrdia de O GLOBO

Desde que roubaram os lépitopes da Petrobrás que os colunistas do Globo começaram a cobrar o governo, que era incompetente na segurança, patético, que não conseguia tomar conta de nada importante etc. etc. (e isso apesar da Halliburton ser a responsável pela coisa). Ontem descobriram que foram uns manés que levaram os bichinhos sem saber o que continham e a capa hoje no diário oposicionista fanático diz que as investigações desmontam tese de conspiração adotada pelo governo e critica o Lula e cupinchas pela paranóia e pela falta de fé no capital internacional.

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Duas Fotos do Meu Aniversario

O resto das fotos tá lá embaixo, uns vinte posts abaixo.


Sílvio, o Filósofo.


Paulinho e senhora.

fevereiro 28, 2008

Exalação

Guerra
Conflito
Em algum lugar
Por algum ideal
Deus Terra Poder
Liberdade Liberdade

Confessa sua derradeira percepção
O penúltimo combatente
agonizando
Esvaindo-se em sangue
Respirando com dificuldade

"Vida é tão pouco"
Sangrando e arfando
"Ar e água.
O resto é imaginação"

27.2.08

Depois da Morbidez, Mulher Pelada pra Curar: Onde, por Júpiter, ficam esses pubs??????









E essa aqui parece que é a garçonete:







Poemas Mórbidos

1

Spoiler adiante:
Epitáfio



2

Dentro de mim mora um anjo
O Anjo da Morte

E ele luta por sua liberdade
Avançando todo dia
milímetro por milímetro

Skype e afins

Sabe por que ainda não tem ligação local via skypes da vida quase de graça? Segundo a Anatel, é pra proteger o investimento das telecons.

Pensei que a privatização que ia acabar com essas coiss. Pegaram uma rede toda renovada, com as estações digitais recém-instaladas e ainda botam banca.

fevereiro 27, 2008

Um Corpo na Biblioteca Capítulo 1



Escrevi esta novelinha pra rádio MEC AM em 1987. Meu primeiro trabalho profissional como ficcionista. Cinco minutos diários, uma historinha completa de humor de segunda a sexta. Acho que ganhei a vaga quando conversei com a produtora na segunda de manhã, peguei no TRT, fui pra casa e pra minha Lexicon 80 manual e na quarta de tarde apareci lá com DUAS novelas. A primeira era esta, Um Corpo na Biblioteca, a outra era uma distopia futurista em que o Brasil faliu, o futebol era a única coisa que dava dinheiro, então o Flamengo foi estatizado e o único time que ainda se opunha a ele era o América - o meu épico se chamava, dã, América.

Breve os outros capítulos.

fevereiro 26, 2008

O Dossiê Veja

Não se fala em outra coisa nos sáites sobre imprensa. Luís Nassif conta tudo sobre como a Veja enlouqueceu completamente no século XXI, na magnífica série Dossiê Veja, em seu blogue no Ig. Tem um linque na minha lista pra lá, mas repito aqui porque vale a pena destacar. Eu não leio Diogo Mainardi - o cara não fala coisa com coisa e sequer é engraçado como Paulo Francis e seu antigo mentor (só mentor?) Ivan Lessa, mas quem gosta de ficar se indignando à toa com escritores fracassados vai fazer a festa.
A noite tem grilos, grilos soando alto e morcegos e outros insetos noturnos e corujas, dá pra ouvir as corujas também, e tem o rio, o rio que domina a cidade, o rio que é a cidade, o rio das Monções, as cachoeiras, e tem aqui e ali um charco e o charco tem os sapos, línguas e bolsas de ar, tudo, tudo fazendo tão mais barulho do que se pode imaginar numa cidade grande onde os automóveis arranham as paredes de concreto com seus decibéis, mas perturbam, os ouvidos não doem com o silêncio como de uma cidade pequena mas nem tão pequena e nem tão mato, o silêncio de uma cidade com prédios e pessoas pacatas, quatro andares e os moradores que nunca saíram de lá ou voltaram para sua aposentadoria, para criar as crianças, para fugir da violência do Rio ou da turbulência, do barulho, o barulho que invade até a cidade de Monções e eu também, estou fugindo, estou fugindo do barulho que invade meu corpo e minha alma, estou fugindo da confusão, mas não estou fugindo da turbulência, estou fugindo para Monções, tem o Festival, dá pra ganhar algum dinheiro e estou querendo fugir, pegar um ônibus noturno para ver a estrada iluminada só pela lua, o ronco do motor do ônibus se espraiando como ondas de baías calmas e poluídas, envolvendo, como um livro, a estrada escura, o ronco sub-reptício do motor escalando os sentidos como uma maré enchendo e um livro, um livro envolvente, um livro fácil de ler, com personagens com que possa me identificar, talvez um romance, um romance policial, mas não com muitos policiais, traficantes e tiroteios, uma cidade pequena e um corpo na biblioteca e todos aqueles pecados escondidos e uma mocinha virginal mas que não é mais virgem, virgens não me interessam, é mentira, eu estou fugindo para a turbulência, para ela, virginal porém não virgem, mas era virgem e virginal e eu exterminei o primeiro adjetivo, há tanto tempo não o fazia, a chance sempre presente, dezenas de cidades não tão grandes e moças mal amadas, mal amadas por desinteressantes, eu estou fugindo para o local de onde fujo há quase dez anos, por medo, eu, eu que a desvirginei, eu que fui seu primeiro, e pensar que damos tanta importância a isso, mas minha mãe, há mais de vinte anos, logo a minha mãe, assistindo uma comédia romântica e uma mocinha dizendo a um rapaz que nunca o esqueceria por ele ter sido seu primeiro homem e a minha mãe falando sem ninguém perguntar na sala escura, "importante não é o primeiro, importante é o último", eu que me sinto perdedor por ter sido o primeiro já há quase dez anos e que me senti o perdedor por não ter sido o primeiro de uma mulher que tanto amei há tanto tempo, se soubesse que o primeiro, o primeiro dela é que era o perdedor, eu sei, eu não devia, amor não é jogo, a gente não joga, mas tenho meu orgulho de macho, afinal, não é isso que me faz flertar com elas, seduzi-las, amá-las, ser macho, o que inclui meu orgulho de macho, eu me sentia o perdedor cada vez que a amava e sabia que ela nunca seria toda minha e Branca, fui seu primeiro e ela me adora e ela nunca será toda minha, ela nunca mais será minha, como outras, como Paula, o marido dela tão cheio de grana e juventude e beleza e ela caidinha por mim, dando pra mim no carro quase na portaria do prédio dela e ela dizendo que se ele visse pagava alguém pra matar os dois, ela estava loucamente apaixonada por ele, o marido era um corno, um babaca, ele sim, ele e aquela belíssima psicóloga de vinte e nove anos que adorava nadar nua e o marido não curtia, o marido não a comia bem, não a comia como ele, ele que saía de um casamento, a mulher dele também não, também não curtia trepar como ele gostava de trepar, como ele gostou de trepar com Branca, Branca, apaixonante Branca, como a Paula, elas tão lindas e agora eu aqui fugindo, o ônibus na estrada escura, todo mundo dormindo e um foco aceso, a estrada fria, fica frio assim na estrada à noite, a estrada fria e no ônibus só uns focos de luz, só uns pequenos focos de luz, meu livro envolvente, não quero pensar, não quero pensar na Paula me dizendo que eu sou só tesão, ela precisava de mais e o marido tinha voltado a comer ela bem, talvez não tão bem quanto ele, mas ele era um músico, um cantor, mulherengo, era só uma coisa de pele, ela estava com quase trinta anos, não era isso que ela queria da vida, não era isso que ela precisava da vida, e agora cá estou, fugindo pra Monções, a terra do rio das Monções, da mata atlântica, a luz, a pequena luz no livro, uma luz na escuridão, Monções uma luz no meio da serra, mas talvez um monte de outras luzes, os discos-voadores, a cidade onde mais se via discos-voadores ali, tinha até a seita de adoradores de discos-voadores, seita dona de fazendas e cheia da grana e muita gente dizendo que era por causa das drogas, tanto os discos-voadores vistos quanto a fortuna da seita, mas que se danem os discos-voadores, talvez não, talvez até gostasse de ser sequestrado por eles, talvez até fosse divertido, preciso espairecer, preciso de alguma coisa diferente, Paula foi embora, voltou para o corno, quando eu era corneado me sentia humilhado, pequeno, maltratado, indigno, envergonhado, ridículo, eu nunca consegui perdoar, nunca consegui voltar, mesmo já tendo corneado antes, mas o que posso fazer, sou macho, macho heterossexual e macho não podia aguentar aquilo e agora eis que enfim descubro a verdade, não que amor não é um jogo, isso ainda não me veio numa epifania, mas eis que finalmente descubro, quem diria, que quem era o vencedor era o que ria por último, aquele com quem a mulher ficava, e Luciana, Luciana lhe implorando pra voltar, fazendo de tudo pra me reconquistar e eu nada, impassível, só porque ela tinha me corneado, tava confusa, nós tínhamos brigado, ela me ligou querendo voltar, eu disse que não e ela sumiu uma semana, reapareceu dizendo que precisava de mim, que tinha dormido com outro numa festa em que ficara o tempo todo falando o quanto sentia a falta dele e ele nada, ele só aceitando sair com ela pra poder humilhá-la, fazer ela implorar que ele a deixasse satisfazê-lo sexualmente, e eu tão irritado fazendo coisas que eu sabia que iam machucá-la, enfiando legumes nela, enfiando desodorantes e perguntando se ela estava gostando e ela lá, reclamando que não estava tão molhada assim, mas lá, aceitando, ele puto e agora, agora eu sei que eu era o vencedor, o cara que a tinha comido provavelmente sonhara anos com ela e tivera uma sombra, possuíra um fantasma, um corpo, por isso que eu quero fugir, eu preciso fugir, que bom o Festival, que bom ter sido chamado pro festival, cantar em barzinho de cidade turística, esquecer a Paula, fugir, fugir pra Branca, eu sempre acabo fugindo pra Branca, sempre vou desabafar com a Branca, trocar idéias com a Branca, porque eu adoro conversar com ela, adoro ficar horas falando com ela, adoro ela, sou apaixonado por ela, Branca, Branca, a estrada e o foco de luz e a luz dos discos-voadores e Branca, tão jovem e bonita, tanto tempo, tanto tempo ainda pra ela continuar jovem e se apaixonar por mim, Branca, a Paula me deixou, a Luciana me deixou, não sei ser corno e não sei ser o corneador, Branca, tudo que eu sei é você, você foi minha, um fantasma, um corpo, você me adora, adora conversar comigo, mas não dá pra mim, não mais, você só queria perder a virgindade, mais nada, não sei cornear, não sei ser o corneador e não sei fazer uma adolescente inexperiente se apaixonar pelo cantor da cidade grande experiente e bonito, Branca, eu estou fugindo, fugindo de você, há quase dez anos que eu fujo de você me enfiando bem debaixo de seu nariz, Branca, Branca, Branca, o livro envolvente pra me atrair os sentidos, não adianta, Branca, Branca Branca Branca Branca Branca Branca Branca Branca

fevereiro 25, 2008

Novos Microcontos

Quem acompanha este blog lembra do post sobre microcontos. A revista Wired convidou escritores, redatores, autores e afins para enfrentarem o desafio de concatenarem um conto em seis palavras e publicou o resultado aqui. Como escritor, não resisti ao desafio e mandei ver nesta velha postagem. Pedi colaborações, mas só as recebi de Patrícia Evans e Roger Filósofo, como lá se pode ver. Pois depois de muito tempo, a nova leitora Livia Rosa (que vocês já viram aqui e aqui) se animou pacas com a idéia e mandou os dela. Divirtam-se e vê se vocês se animam a fazer o mesmo!

1. Agostinava na cadeira de balanço. Pensava.

2. A saia, a coxa, o atrito.

3. Com o nome de Perpétua morreu.

4. Seguia a rota 51 tatuada.

5. Em seu devaneio, planava sobre planícies.

6. Projetou, sim, a obscura imagem espúria,

7. Ante o olho da noite, desfaleceu.

8. Prometeu ser boazinha. E não foi.

9. Tudo por uma cerveja gelada. Agora.

10. Nunca disse adeus. Tampouco olá.

11. Ignorou a chama. Carburou.

12. Embora falhas, as premissas serviram. Ultrapassou.

13. Apenas um passo. Mergulhou no abismo.

14. Fé insana, confessa. Delírio mórbido sorridente.

15. Isolado do mundo, voltou a ser espécie

16. Cinco, quatro três, dois, um, fogo!!!!

17. Hibernando em cápsulas, retornaram à Terra.

Onde os Fracos Não Têm Vez

Pouca gente notou, mas o cartaz de Onde os Fracos Não Têm Vez é uma citação - citação não, uma imitação - de O Resgate do Soldado Ryan. E não é uma brincadeira da turma de marketing. É um dos fundamentos do filme.

O xerife, algo ineficaz, está velho. Ele provavelmente esteve na II Guerra Mundial. A do soldado Ryan. Aquela história de se sacrificar por um bem maior, de seguir um ideal mesmo que ele seja uma digressão dentro da luta. O protagonista do bem (mais ou menos) esteve no Vietnã. Baby Boomer operário, ex-soldador, trabalhador de siderúrgica, o aço que fez a América. Não sabemos porque está aposentado, mas podemos ligar os pontos e supor que foi sua temporada na terra dos vietcongues. Foi lá que tudo começou a dar errado para ele e a América (sempre que você vir um metalúrgico em filme americano, ele é uma metáfora dos verdadeiros valores da Terra da Promissão). O assassino mauzão se chama Anton Chigur. O ator é hispânico, mas o nome tem um exotismo de Velho Mundo. Ele não tem senso de humor, raízes, tem toda pinta de não gostar de mulher e sua arma de ar comprimido é uma dupla metáfora - remete ao que se usa para abater gado e a uma bomba de enfizema, ou seja, ele respira morte e as pessoas para ele são apenas animais de matadouro.

Tem outros personagens simbólicos no filme - os mexicanos sem rosto que se matam no deserto e ninguém fica sabendo durante dias, longe dos olhos das pessoas (exceto do caçador que esteve no Vietnã). As esposas. O vendedor da loja, que criou os filhos, viu-os sair de casa e foi viver o resto da vida numa vendinha no ânus do mundo. Tem uma velha trama de noir, de tesouro ilusório que você sabe desde o princípio que só vai trazer danação, que os próprios Coen já usaram à larga. E tem um niilismo desesperado. Numa das cenas mais bonitas da fita, o xerife entra no quarto. Ele é nosso preposto, representa os bons valores em que queremos acreditar e que são tão fortes que, quando no mesmo aposento, só resta a Chigur esconder-se nas sombras, sem tentar enfrentá-lo como ele faz com todo mundo no resto da história. Mas o xerife desiste. Ele está velho. O ano é 1980. O Vietnã foi uma guerra injusta. Watergate. A indústria tradicional fechando as portas para os metalúrgicos. Os estrangeiros globalizando tudo. Ronald Reagan assumindo a presidência e instaurando o reinado do capitalismo neoliberal de cada um por si. E tem ainda outro personagem simbólico, que eu já ia esquecendo. Aproveitando que a trama é noir, o "coronel" interpretado por Woody Harrelson é o descendente de Phillip Marlowe e todos seus colegas detetives durões românticos (Sam Spade não, este é um filho da puta por fora e por dentro). Comunica-se através de wisecracks, está sempre um passo à frente da trama, tem senso de humor e um saudável cinismo, mas não é páreo para Chigur.

Os valores do Vietnã sobrepõem-se à II Guerra. Os soldados Ryan estão velhos. Os psicoptas de My Lai mandam, traficando as drogas que vieram na bagagem dos veteranos que retornavam do Sudeste Asiático. O filme é magistralmente enquadrado, fotografado, editado e interpretado, como todas as produções Coen & Coen, mas não me agradou. Não somente pela visão negra e desesperada do filme, aliás, justamente por ela, mas não por ser negra e desesperada, mas por ser incoerente com a esperança e a celebração de uma simplicidade quase zen, quase religiosa de Fargo.

Embora de uma ingenuidade meio Rousseau e bom selvagem, já que os citadinos são sujeitos avaros e agressivos, preocupados apenas com a aparência e infelizes (a cena com o velho colega japonês da xerifa) e o povo do interior de uma sabedoria quase mística, a fita puxava de todo seu cinismo niilista um auto de fé: Grávida (a vida que se renova! O futuro! A esperança!), feliz com seu emprego e seu marido (a gravidez implica em vida sexual ativa), que também parece satisfeito em expressar-se artisticamente mesmo que apenas para aparecer num selo local, no final do filme ela tem uma das falas mais belas desse tipo de noir com tesouros ilusórios (tão ilusório que numa das muitas cenas brilhantes do filme, Steve Buscemi o enterra num lugar igual a qualquer outro e até ele mesmo percebe que jamais conseguirá recuperá-lo a sério), quando comenta que todas aquelas mortes aconteceram por causa do dinheiro. Não me lembro das palavras exatas, mas é algo como "dá pra acreditar? Tudo isso só por causa do maldito dinheiro". Existem outras preocupações na vida. É por isso que ela está prenhe, percebem?

Mas aí tem ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ. Mudaram de idéia? Não é pra ser levado a sério, é só diversão? É o quê? Desculpem a falta de consistência do post, mas estou escrevendo correndo em dez minutos antes que os carequinhas todos que eles ganharam virem notícia fria.

O Clipe definitivo de Águas de Março


Eu achava esse clipe uma das melhores coisas do Adult Swim e que tinha sido feito no Brasil. Quem diria, é original americano. Sem dúvida, o vídeo definitivo para a música.

Talento

(Carol Ann Duffy)

Eis a palavra "corda-bamba". Agora imagine
um homem, avançando por ela pé ante pé
através do espaço entre nossos pensamentos.
Ele nos faz prender a respiração.

Não há a palavra "rede".

Você quer que ele caia, não?
Eu imaginei; ele vacila, mas consegue.
A palavra "aplauso" está estampada nele.

(Livre tradução minha do original em inglês abaixo)

This is the word tightrope. Now imagine
a man, inching across it in the space
between our thoughts. He holds our breath.

There is no word net.

You want him to fall, don't you?
I guessed as much; he teeters but succeeds.
The word applause is written all over him.

fevereiro 24, 2008

Um Tucker em Copacabana


Um raríssimo Tucker - aquele do filme do Coppola - fora dos Estados Unidos e bem logo ali na Praia de Copacabana! É o carro preto estacionado à esquerda, com o que parece ser um cartaz no pára-brisa. Repare no "ciclope", sua característica mais marcante, o farol central que girava com a direção. Do site Saudades do Rio.

Crônica para a revista Movimento sobre ônibus

Por falar em ônibus e crônica, O RAPTO DO 464 saiu na Zé Pereira número 4! Já nas bancas!


Ônibus hoje nem capô tem, quanto mais o aviso de que é proibido botar os pés em cima do capô. Ou capot. Ou kapô. Ou kaput. Ou até mesmo capeaux, sendo esta última grafia a mais misteriosa, ocultando uma francofilia tão arraigada que preferia a licença poética à correção na língua pátria. É um clichê da nostalgia, é verdade, mas eram tempos mais românticos, com as letras toscas, porém muitas vezes caprichosamente rebuscadas, sugerindo um sujeito dedicado à sua tarefa, mesmo que uma infância difícil lhe tivesse privado de educação suficiente para escrever "capô" corretamente, ao contrário dos cartazes metálicos impressos por computadores com corretores ortográficos usando todos as mesmas fontes do Windows e, embora a maioria dos computadores que eu conheço tenham uma vida difícil maltratados abertamente pelos seus donos, não é a mesma coisa.

Mas se começo tão nostálgico é porque pretendo falar de um assunto indissoluvelmente ligado a lembranças, descobertas e ritos de passagem: a época em que se começa a andar de ônibus sozinho. Porque é quando o seu universo e seus horizontes se ampliam, deixando de englobar apenas aqueles parcos quarteirões que contêm as casas de seus amigos, o seu jornaleiro, o seu supermercado, a sua papelaria e passa a parecer vasto e selvagem, com tanto a explorar e descobrir. Curiosamente é um período muito pouco relembrado e celebrado por poetas e cantadores, em detrimento da iniciação sexual, que normalmente vem um pouquinho mais tarde e, de certa forma, é muito menos libertadora, já que subitamente seus interesses na vida se limitam, com o sexo oposto - ou o mesmo sexo, ou ambos, depende da sua orientação - no topo da lista e todos aqueles videogames, álbuns de figurinhas, miniaturas de carros e aviões e afins desaparecendo de suas prioridades.

E olha que era um aprendizado complexo, desde a época em que se rastejava por baixo da roleta porque "menores de sete anos têm direito a passagem gratuita" até o dia em que se entrava sozinho e orgulhoso, subindo sem vacilar os degraus maiores do que sua perna - e que, ao contrário do que se pode pensar, não parecerão melhor dimensionados quando você crescer - e esticar as moedas contadas para o trocador. Felizmente eu peguei uma época em que já praticamente haviam sido abolidas as fichas de ônibus, com seu código de cores indicando o lugar onde você havia tomado o ônibus e o lugar onde você desceria do ônibus, com um preço proporcional ao percurso percorrido. Como os trocadores conseguiam despachar os passageiros rapidamente sem ter um laptop ou ao menos uma calculadora de camelô só aumenta cada vez mais a admiração que tenho pelos antigos. Talvez alguns deles ainda não tivessem tido sua iniciação sexual e sua lista de interesses ainda abarcasse o cálculo algébrico avançado, afinal, pelo que lemos na época nas histórias de Nélson Rodrigues, ou se era tarado ou se era virgem e alguns cobradores podiam ter uma aparência bizarra, mas todos inspiravam confiança.
Do aprendizado fazia parte também saber que você deveria conversar com o motorista somente sobre o indispensável. A redação algo prolixa deste aviso criou em minha geração uma dúvida terrível: o que era aquele raio daquele indispensável que você tinha que conversar sobre ele com o condutor? E se você não soubesse do que se tratava aquele assunto, o que aconteceria? Você seria posto para fora do ônibus? E se você estivesse em pé, ali perto do capô, caput, capeaux, e o motorista começasse a conversar sobre o indispensável com você, "e aí, viu o indispensável ontem no programa do Flávio Cavalcanti?", o que fazer? Sorrir, dizer que não, que estava assistindo a "Só o Amor Constrói" ou ao "Fantástico"? Perguntei uma vez ao meu pai e ele me explicou "por exemplo, se tiver um bêbado criando problema no ônibus, você vai lá e fala com o motorista". Durante anos achei que indispensável fosse um criador de problemas. Quando eu brincava de bangue-bangue, o xerife chegava para o bandido e dizia "estou vendo que você é indipensável". É claro que aprendi o correto significado da frase. Senão não poderia pegar o ônibus sozinho para ir ao cinema em outro bairro. Ah, a liberdade. Sem ela, como olhar com ar superior para os colegas de escola que tinham que esperar os pais chegarem ou embarcavam no ônibus do colégio que dava voltas intermináveis? E como disfarçar a sensação de maturidade ao sair sozinho com o dinheiro para ver aquele filme que tinha acabado de estrear no cinema e o lanche no recentemente inaugurado McDonald´s em outro bairro, enquanto os outros garotos tinham que esperar até o fim de semana, quando os pais os levariam, se tivessem tempo, é claro.
E andar de ônibus tinha também suas sutilezas, que você só aprendia com a prática, assim como o sexo também só se desvela com o tempo. Usando sempre a mesma linha, aos poucos começava a reconhecer rostos entre os passageiros sentados e guardar onde eles iriam saltar, assim você podia ficar em pé perto do banco dos que iam sair primeiro e sentar mais rápido. Mais tempo ensinava você a perceber pela cara do passageiro se ele iria até o fim do percurso ou ficaria em algum ponto próximo. Não me pergunte o porquê, mas pelo menos na minha época, mulheres com muitas sacolas sempre iam até o fim da linha.

E, por falar em mulheres com sacolas, você sabia que sua maturidade em andar de ônibus chegara quando começavam suas preocupações com a filosofia do ato: por exemplo, o que é a tarifa? É o direito de usar a condução ou o direito de ocupar um espaço no ônibus? Sim, isso é importante. Há tempos, pegando certa vez no conserto uma tevê Philco Amazonas, voltei com ela de ônibus, sentado e trazendo-a ao meu lado, o que fez uma mulher discutir comigo que eu não podia ocupar dois lugares pagando só uma passagem. Acabei pagando outra passagem também para a televisão, o que a deixou sem argumentos e furiosa, duas coisas que normalmente andam juntas, mas a pergunta me volta à mente sempre que vejo pessoas carregadas de sacolas ou mesmo obesos mórbidos ocupando bancos em ônibus. Estes últimos, apesar de seu imenso volume corporal, têm direito a deixar você espremido na borda do banco ou devem pagar também duplamente? De outra vez, presenciei - juro que é verdade - uma senhora que começou a receber santo no ônibus. Um sujeito meio idoso e implicante falou ao motorista que ela era indispensável e queria que ela fosse expulsa do coletivo. Quanto o motorista retrucou que não havia razão para tanto, ele hesitou um pouco, pensou e mandou essa: "mas o santo não pagou passagem".

Eram outros tempos, eram os tempos em que você começava a andar sozinho de ônibus, tinha sua iniciação sexual e começava a fumar. Tinha avisos no ônibus alertando que era proibido fumar, mas até o aviso fumava naquela época. Era como o capô, caput, capeaux. Com a prática, você descobria que, por ser moleque, podia sentar na beirinha dele. Hoje em dia não tem mais nem o capô escrito errado e ninguém fuma em ônibus. Mas os ônibus continuam rodando. Eu também não fumo mais, mas também continuo rodando. Aprendi andando sozinho de ônibus. Sozinho, não. Eu e mais 36 sentados e 44 em pé. E o trocador e o motorista, mas este não era boa companhia. Só sabia conversar sobre o indispensável.
Nada acontece a uma pessoa que não se pareça com ela (Aldous Huxley)

Lívia Rosa no Play City

Descobrimos o parque quando saímos do Plaza Shopping. Pena que já estava fechando e as filas estavam enormes. Não rodamos em nada, mas nos divertimos à larga com nossos celulares.


Um Celular num Parque Mambembe


Play City em Niterói, junto à Estação das Barcas. Pena que a gente chegou quando já estava fechando.




Ia-Ba-Da-Ba-Dúúúúúúúúúúúú!!!!!!!!

Um celular no Play City em Niterói.

Sob o Signo Chinês da Serpente

Peixes e Serpente. São os signos que se correspondem. As fotos do meu aniversário estão mais abaixo. (Foto da exposição de Darwin no Museu Histórico Nacional)



To Be or Not To Be?

Comprovado - O macaco é o ancestral de Laurence Olivier.
(Exposição de Darwin no Museu Histórico Nacional)

Exposição de Darwin no Museu Histórico Nacional

A exposição não vale 15 pratas. Muito pra criança. Vai aí o que o celular registrou:
A Marcha da Insensatez
The Alien Evolution?
A Mão-Boba
A Marcha da Insensatez II

O Enrabe

É isso que o Museu Histórico Nacional tem pra mostrar pras criancinhas que vão lá nas excursões escolares???????

Que Barato!


Mais sobre o Universo e a Humanidade

Uma vez eu discuti com um amigo que achava a raça humana algo assim, meio... desprezível. Que era muito imperfeita. E eu tentei explicar pra ele que amar a humanidade é amar o erro. É isso que ela tem de belo e divino, a capacidade de se reinventar, se recriar, a capacidade do livre-arbítrio, de fazer seu destino. De ser imprevisível. A perfeição está aí em todo lado - os planetas girando suas perfeitas órbitas elípticas, com o Sol em um dos focos e gastando o mesmo tempo percorrendo-a de acordo com a área do polígono. As estrelas queimando sua parcela de combustível e com sua morte podendo ser prevista, calculada e acontecendo exatamente como deveria, com toda pompa, circunstância e espetáculo que supernovas e gigantes vermelhas podem causar.

Já o amanhã de uma pessoa ninguém pode prever. À caótica biologia se junta a misteriosa consciência e ninguém sabe o que vai sair de lá. O erro - e a bela tentativa de se melhorar - são os dois grandes predicados da humanidade. Toda nossa arte é sobre o erro, o que parece escapar aos estetas entediados que amam a arte e não têm paciência para com os artistas.

E, além disso, qual o sentido da perfeição? Todos os planetas e estrelas e galáxias continuarão a girar muito tempo depois de nós nos termos ido. Para quê? Qual o barulho que uma árvore caindo na floresta faz quando não há ninguém para ouvir? Qual o Universo que existe se não há ninguém para saber que ele existe. Qual o valor da perfeição quando tudo é perfeito, tão perfeito que nem mesmo sobra espaço para um pouco de auto-apreciação, "puxa, eu não sou um Universo tão mecanicamente e relativisticamente perfeito?" Terá Deus (aqui entendido como metáfora do Todo e não um sujeito de longas barbas brancas sentado numa nuvem) criado a vida inteligente para validar sua perfeição? Para conhecer a si mesmo?

Quando eu tinha uns 13, 14 anos, já era um moleque estranho, daqueles que passavam o recreio na biblioteca. Certa feita um outro moleque desses estranhos, que já era comunista (eram os tempos da ditadura), me explicou porque não tinha medo da morte: nada sei do que existia antes de mim e nem saberei depois; não tenho consciência do meu começo e não terei do meu fim; logo, sou imortal". Pensamento incrivelmente complexo para um adolescente entrando na puberdade (Mauro Leão deve ter lido em algum lugar, ninguém pode ser assim tão mais inteligente do que eu). Imortal também é o Universo.

Apenas nós (e as outras vidas inteligentes que com certeza habitam a esporrada do Big Bang) estamos aqui para marcar a passagem do tempo.

Feliz Aniversário, Ave!

Heitor e Paulinha França.
A galera da bancada.
A galera da bancada se divertindo.
Denise e Ivan (vocês decidam quem é quem). Cláudia Belém 2 x 1 Denise.
Serginho França.
Mônica, Fabiana e Lívia Rosa.
Fabiana e Lívia Rosa.
Priscila Glauber e Andréa.

Meia-noite a festa já estava bombando...
Nos dois lados da GlauBauHaus.
Serginho Traz, Paulinha Traz e Ana Sílvia.
Ana Sílvia e Glauber, o proprietário da GlauBauHaus.
Paulinha, Serginho, Serginho e Paulinha.

Marquinhos e Fabiana.
Lívia Rosa e Roger, o filósofo noivo.
Carlos, o astrofísico - há vinte anos ele gritou "A de fora é minha!" pro Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, mas o clone do Asimov ainda não largou o posto. "Mas ele é um grande divulgador de astronomia, apesar de ser engenheiro", explicou Carlão.
Andréa evita olhar diretamente pra câmera por vergonha. Paulinho nem liga.
Zé José e e alegre Denise. Cláudia Belém 2 x 2 Denise.