março 31, 2008

De Próprio Punho


Clique na imagem para vê-la no tamanho original.

Televisões são Concessões Públicas

Este vídeo foi copiado do blogue do jornalista Luiz Azenha:

Quando o Chávez não renovou a concessão para uma rede de tevê (ou canal, tô meio por fora), a gritaria foi geral. No entanto, as emissoras, para receber a concessão, têm que se pautar por certas regras. No famigerado golpe que derrubou o coronel maluco da Venezuela, apenas para o presidente interino dissolver o congresso por tempo indeterminado e dizer que ia pensar quando seriam as próximas eleições (o que acabou trazendo o Chávez de volta dias depois), o canal oposicionista levou ao ar esta jóia de jornalismo: um âncora entrevistando os golpistas e fazendo questão que eles salientassem como a empresa tinha sido fundamental no movimento que tirou o tresloucado milico do poder.

É claro que aqui ninguém lembrou desse comportamento pouco ético daquela tevê, fomentando golpes ditatoriais contra sujeitos eleitos pelo voto popular. Na Europa os noticiários têm que repartir seus tempos entre os diversos partidos; nos EUA as redes não podem alcançar mais de uma certa percentagem do território nacional (tô por fora a quanto tá no momento, acho que é por volta de 45%). Ainda por cima tem os famosos canais estatais europeus, concorrendo com os privados na boa. Só aqui é que tudo é uma zona e ainda ficam falando que qualquer regulamentação é censura.

Para nós, cariocas, até que foi bom. É por este motivo que o modo carioca de ser ainda é o padrão cultural brasileiro, já que esta ex-capital federal e ex-cidade-estado com dinheiro pra gastar hoje em dia é só o centro administrativo de um estado que está chegando à classe média (depois que lá de Brasília começaram a pagar uns caraminguás pelo petróleo de Campos). Já foi mais hegemônico, é verdade. A concorrência da Bandeirantes nos anos 80 (quando o relativo sucesso de algumas novelas de Ivani Ribeiro e aquele sujeito que escrevia o Pantanal, esqueci o nome dele, que lançaram Fernanda Montenegro na tevê) e depois do SBT obrigou a Globo a apaulistar um pouco sua programação. Foi essa investida no Ibope por parte dos garoados que fez chegar até nós a (insuportável) música sertaneja (1), o Van der Ley Luxembourg, o Neto do Coríntians e afins (afins porque marcam o começo do fim para a supremacia carioca. Glup!)

(1)Sim, nós somos culpados pelo funk carioca e pelo pagode, mas este foi encampado também pelos paulistas.

Constatação

Eu pra minha irmã: Patrícia, se não existisse tevê a cabo e Internet a gente já tinha casado e tava com um monte de filhos.

março 30, 2008

Strip Generator


Você não sabe desenhar? Faça sua própria tira em www.stripgenerator.com. E aproveite a passagem para ver o catálogo.
Ah, e clique na imagem pra ver a minha primeira tentativa num tamanho legível.

Um Minúsculo Baterista

Um celular com filmadora na rua do Vaivem na Lapa

Na melhor tradição de Animal (da banda do dr. Tooth, d'os Muppets) e Meg White.

Joaquim Nabuco, três da manhã, sexta pra sábado

março 28, 2008

Famíia Feliz

Nazistas x Comunistas

Os alemães nazistas e os soviéticos podem ter sido duas terríveis ditaduras, mas não eram farinha do mesmo saco. Ultimamente os vencedores da Guerra Fria e difusores do Pensamento Único tentam vender esta versão e vão acabar convencendo todo mundo disso. Reproduzi algumas postagens abaixo uma matéria do Sindicato dos Jornalistas falando sobre uma história do apartheid de que nunca tinha ouvido falar porque, apesar do que possamos ouvir em contrário, a propaganda pró-americana deixa a maioria das pessoas ignorante sobre muita coisa da história. A maioria das pessoas acha até hoje que foram os ianques que venceram os nazistas e que o fronte russo foi uma frente secundária; existe um bom número de fãs da II Guerra que sabe que esta é uma idéia absurda, mas mesmo entre estes fãs pouquíssimos sabem que, antes da URSS celebrar um pacto de não-agressão com a Alemanha (sempre mencionado como o gatilho que deu origem ao conflito), ela tentou MUITO assinar um tratado semelhante com a França e a Grã-Bretanha, que a refutaram, acreditando que sua força militar fosse desprezível e que era melhor deixar aqueles comunistas e nazistas sujos se estrangularem uns aos outros. Churchill, anticomunista, porém pragmático, bateu-se por esta aliança, mas foi ignorado pelo Parlamento, que preferiu entregar a Tcheco-Eslováquia a Hitler.

Agora a onda é dizer que os nazistas eram socialistas. Afinal, tinham a palavra "socialista" no nome (cuidado, gente. Os tucanos também têm a palavra "social" no nome! São perigosos socialistas!!!!) e o Estado intervinha na economia. Assim, matam-se dois coelhos de uma só cajadada: vende-se a idéia de que Estado intervindo na economia e idéias de igualdade social, assim como o nazismo, são muito RUINS.

Marx acharia curiosíssimo que justo esse pessoal encampasse sua idéia de análise econômica da história; entretanto, intervenção estatal tem-se nos mais diversos lugares, desde a China até a Noruega, o que não torna nenhum desses dois países parceiro ideológico de Hitler, até porque o nazismo era uma variante do fascismo e, como os leitores deste blogue bem sabem, a palavra vem de fáscio, um machado romano em que finas hastes amarradas dão sustento a uma lâmina metálica, e deveria simbolizar a sociedade civil dando suporte ao guerreiro, ao homem resoluto e de ação, pois a democracia era um câncer na sociedade.

O fascismo tem inclusive origens ideológicas nos mesmos pais do liberalismo do século XIX, apoiando-se em interpretações equivocadas de Darwin, os chamados darwinistas sociais. Essa era a sua idéia central, uma idéia feudal, de uma elite guerreira (1), de homens capazes de comandar, em antagonismo àqueles fracos e decadentes intelectuais que punham mictórios em museus e borrões em telas (2). Não por acaso Himmler tinha planos de restaurar a religão pagã; o regime tinha uma casta de humanos superiores, cuidadosamente escolhidos e preparados, os SS, e o Exército era uma organização perfeita, com soldados soberbamente treinados e equipados. Além do mais, ninguém nunca ouviu falar das fazendas coletivas nazistas ou de que todo o sistema industrial tenha sido desapropriado. Segundo o Spielberg, qualquer um podia chegar com sua grana e montar uma fábrica de esmaltados.

O socialismo tem como pressuposto básico justamente a busca da igualdade. Os homens são todos iguais, merecem oportunidades iguais. Indústrias, bancos, fazendas e demais bens de produção PERTENCEM ao Estado, ao invés de seguirem seus regulamentos e orientações. A idéia de uma casta superior, geneticamente destinada ao comando, é estranha ao sistema. É só comparar o exército russo ao alemão: os soviéticos iam para o combate mal treinados, mal equipados, semianalfabetos e montados em cima de tanques correndo, morrendo aos borbotões.

Nazistas e comunistas foram dois partidos violentos e genocidas, mas tinham características bem diferentes. Economicamente, é inegável que desenvolveram seus países além das mais fantásticas previsões, o que só prova que desempenho econômico não mede coisa alguma. Talvez o socialismo, com toda a produção controlada pelo Estado, o que exigiria grande participação política de cada cidadão, tenha realmente uma tendência à corrupção (e, consequentemente, à crueldade). Mas, como no caricatural filme de Costa-Gavras, O CORTE, o nosso nível de corrupção pessoal tem crescido muito nos últimos tempos: estamos vendendo nossas crenças, nosso tempo de lazer, até nossa fé, pelos nossos empregos.

(1) Quase toda cultura tem um certo elitismo envolvendo uma casta guerreira. A origem história dessa tendência começou com o surgimento da agricultura, quando os povos que aravam a terra começaram a enriquecer e ter fartura de alimento, enquanto os que continuaram como caçadores-coletores e pastores, em seu estilo de vida nômade, continuavam na fronteira da miséria. Os lavradores, com excedentes de alimento, podiam se dar ao luxo de destacar trabalhadores para trabalhos burocráticos, de construção, de serviços etc., criando intelectuais, escribas, religião organizada e cidades grandes cheias de pessoas bem vestidas. Aos olhos dos bárbaros pastoris, esse pessoal afeminado e preguiçoso das cidades era uma presa gorda e fácil e saquear seus bens poderia resolver sua vida. Os bárbaros atacariam e atacariam e atacariam até que um dia conseguiriam conquistar os agricultores. Sua turma seria a que mandaria e subjugados artistas pouco viris seriam obrigados a cantar em prosa e verso a superioridade das habilidades marciais másculas dos conquistadores. Logo se espalharia entre a sociedade a idéia de que os guerreiros eram seres superiores e honrados, destinandos a comandar e governar. A idéia permaneceria mesmo depois que essa turma chegada a uma batalha já tivesse sido assimilada e passasse seus dias em palácios enfeitados, fazendo caçadas cheias de rituais ajaezados para simular combates e deixassem suas espadas perderem o fio. Enquanto isso, do lado de fora das muralhas da sociedade, bárbaros semi-nômades olhariam para eles e pensariam que aqueles sujeitos obesos, lassos e patéticos dariam uma boa presa...

(2) Lá pelo início dos anos 90, os museus novaiorquinos fizeram uma mostra com obras e artistas modernos que os nazistas perseguiram, alguma coisa como OS MODERNISTAS QUE HITLER NÃO CONSEGUIU CALAR. Obviamente as exposições estavam cheias de cubistas, fauvistas, não-figurativos em geral. Paulo Francis, que ao contrário de seus patéticos imitadores neocons, era um sujeito que valia a pena ler, comentou cinicamente que, se pusessem em salas ao lado as telas e esculturas figurativas, realistas e hiper-realistas endossadas pelo nazistas, emulando um vazio neoclassicismo, a maioria das pessoas iria preferi-las. Sinto ser obrigado a dizer que acho que é a mais pura verdade.

março 27, 2008

Plástico de Carro

"A vida é uma punheta e a morte é a gozada"
(Gláuber, o Moço)

Do Sáite do Sindicato dos Jornalistas

http://www.sjpdf.org.br


A batalha que derrotou o apartheid
Por Beto Almeida


Cuito Cuanavale: o princípio do fim do apartheid



Há 20 anos, em 23 de março de 1988, travou-se no sudeste de Angola a decisiva Batalha de Cuito Cuanavale, na qual tropas angolanas, de Cuba e da SWAPO, movimento armado de libertação da Namíbia, unidas, derrotaram tropas do regime racista da África do Sul, que tinham o apoio da Unita e dos EUA.



Não surpreende que os meios de comunicação comerciais, sempre tão zelosos em comemorar as datas mais banais, seja sobre um desfile de moda, uma festa grã-fina ou um festival de cerveja ou de rock, tenham a mais completa insensibilidade para um registro, ainda que informativo, sobre esta Batalha de Cuito Cuanavale, epopéia tão marcante na caminhada da humanidade para enterrar um dos mais selvagens e brutais regimes da história, o apartheid mantido por décadas pela oligarquia racista da África do Sul, obviamente, com a sustentação da "democracia" norte-americana.



Vale relembrar. Em 1987, a situação em Angola se agravara drasticamente. Aliás, nunca tinha sido tranqüila a situação para o movimento de libertação de Angola, desde o início de sua luta contra o colonialismo português. Depois de fundado no início dos anos 60, o MPLA, dirigido pelo poeta e médico Agostinho Neto, consegue grandes avanços a partir da Revolução dos Cravos, quando o movimento de militares revolucionários derruba a ditadura salazarista em Portugual, a 25 de abril de 1974.



O colonialismo português entrava em colapso total, o novo governo português, dirigido por militares revolucionários adota posição de solidariedade para com os movimentos de libertação das ex-colônias portuguesas. A 11 de novembro de 1975 as tropas do MPLA tomam a capital Luanda e declaram a Independência e a fundação da República Popular de Angola.



Mas, não houve paz. Imediatamente, os EUA que já haviam patrocinado com dinheiro e armas a criação da Frente Nacional para a Libertação de Angola, dirigida por Holden Roberto e com apoio total do governo reacionário do Zaire, de Mobuto Sezeke, e também a Unita, dirigida por Jonas Savimbi, com apoio direto do regime racista da África do Sul, determinam ações para desestabilizar o novo governo angolano, impedindo que a independência fosse seguida da reconstrução de um país dilacerado pela guerra colonial.



A guerra recrudesce em Angola, país rico em diamantes e petróleo; o exército da África do Sul intervém diretamente.



Brasil reconhece Angola e Kissinger vem ao Brasil



Agostinho Neto solicita ajuda militar de Cuba, que, com o apoio da URSS, atende. Um fato notável é que o primeiro país a reconhecer o novo governo de Angola é o Brasil, então presidido por Ernesto Geisel. A posição brasileira causou grande insatisfação junto ao governo dos EUA.



Aliás, o reconhecimento brasileiro á Independência de Angola inseria-se num leque de medidas da política externa brasileira de então - tais como o reatamento com a China, a Romênia, o acordo nuclear Brasil-Alemanha e o rompimento de um Tratado Militar com os EUA e outras - que já indicava um outro alinhamento internacional do Brasil, chegando a motivar uma visita repentina do Secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger , ao Brasil. Segundo os relatos, Kissinger teria reclamado junto ao presidente Geisel da política externa brasileira.



Teria mesmo dito, em tom de ingerência, que a postura brasileira reconhecendo o governo de Agostinho Neto representaria na prática "fazer o jogo do comunismo internacional, o Brasil alia-se a Cuba". A resposta de Geisel teria deixado Kissinger surpreendido e irritado: "Senhor Secretário, a nossa política externa não está em debate com o senhor!" Bem diferente da diplomacia de "pés descalços" e subserviente que o Brasil veio a experimentar nos anos 90, a era da privatização



Cuba pega em armas contra o apartheid



Apesar da solidariedade militar cubana a Angola, a crescente intervenção dos EUA no conflito, através da África do Sul, faz com que boa parte do território angolano escape do controle do governo angolano. Em outubro de 1987, o Presidente angolano José Eduardo Santos expõe a Fidel Castro as dificuldades monumentais e o risco de uma derrota militar. Solicita, uma vez mais, que Cuba conceda mais apoio militar.



A dramática situação angolana é analisada exaustivamente pela direção cubana que decide empenhar-se ainda mais decisivamente na guerra de libertação do povo angolano, baseando-se nos princípios do Internacionalismo Proletário, inscrito na Constituição Socialista de Cuba.



As tropas angolanas e cubanas posicionadas na localidade de Cuito Cuanavale, estavam sob intenso bombardeio do exército racista da África do Sul. O risco de massacre era iminente. Enquanto resistiam, um novo plano estava sendo elaborado em Cuba para inverter esta situação desfavorável.



Em sucessivas viagens de 15 horas de Havana até Luanda - num itinerário inverso ao dos navios negreiros - aviões transportam dezenas de milhares de soldados cubanos. Há também o fornecimento de mil tanques, milhares de baterias anti-aéreas e num prazo recorde de 60 dias é construído um aeroporto com estrutura suficiente para pouso e decolagem dos modernos aviões Mig-23, de fabricação soviética, que Cuba também forneceria a Angola, juntamente com seus melhores pilotos.



O plano estava traçado para a Batalha final de Cuito Cuanavale: 40 mil soldados cubanos bem armados e treinados, 30 mil soldados angolanos e 3 mil guerrilheiros da SWAPO, o exército de libertação da Namíbia, país que também estava ocupado por tropas da África do Sul.



Rumo ao sul



Fidel havia encarregado o general Cintra Frias, veterano guerrilheiro de Sierra Maestra, do comando destas operações em território angolano. Na oportunidade, Castro teria confessado ao líder do Partido Comunista da África do Sul, o branquelão Joe Slovo, que a estratégia seria como a de um boxeador: "Enquanto seguramos o inimigo com a mão esquerda (Cuito Cuanavale), vamos atacando com o punho direito". A situação militar se inverte graças a esta massiva e preparada intervenção cubana, país que chegou a enviar a Angola, ao longo anos, cerca de 350 mil homens e mulheres internacionalistas, garantindo de fato a verdadeira independência na jovem nação africana.



Não suportando os golpes recebidos, em especial uma grande surra promovida pela atuação dos pilotos cubanos nos MIG-23, a Batalha decisiva ocorre no dia 23 de março de 1987, uma derrota fundamental das tropas da África do Sul que Nelson Mandela assim descreveria: " Cuito Cuanavale foi a virada para a luta de libertação do meu continente e do meu povo do flagelo do apartheid!"



Sem dúvida, a luta de libertação da Namíbia também recebia um grande impulso, e dois anos mais tarde, este país também declararia a sua Independência. Entretanto, o governo racista de Botha preocupava-se, pois pela potência e envergadura da estratégia armada por Cuba no sul de Angola chegou a imaginar que as tropas cubanas pudessem dirigir-se rumo ao sul, ou seja, rumo a Pretória.



Na fuga, as tropas racistas bombardearam pontes, revelando medo de uma ofensiva rumo ao sul. Enquanto as batalhas ocorriam, com sucessivas derrotas impostas às tropas da África do Sul, ocorriam no âmbito da ONU as famosas negociações em busca de um acordo, negociações em que os representantes dos EUA exibiam toda sua hipocrisia.



Mas, há um diálogo que merece ser relembrado, quando o representante do regime racista nestas negociações pergunta ao representante de Cuba, Jorge Risquet, se havia a intenção de uma ação militar rumo ao Sul, a resposta é dessas que entram para os anais de história militar: "Se eu lhe disser que vamos rumo ao Sul isto seria tomado como uma ameaça, se eu lhe disser que não vamos rumo ao sul, isto seria para vocês um calmante". Deixou o racista atônito e confuso.



E em outra oportunidade deu o toque de realismo que a arrogância sul-africana não queria reconhecer. "A África do Sul não tem condições de impor na mesa de negociações uma situação de vantagem quando no campo de batalha está sendo fragorosamente derrotada." De fato, os negociadores sul-africanos diziam que se retirariam "para a Namíbia". A história foi diferente, tiveram que sair também da Namíbia.



Condolezza e o Ministro Negro



Exatamente quando a Secretária de Estado dos Eua, Condolezza Rice visitava o Brasil, onde, entre muitos temas mais importantes e nada divulgados, assinou um Plano de Ação pelo qual Brasil e EUA decidem atuar conjuntamente para "eliminar a discriminação racial", a TV Cidade Livre, o canal comunitário de Brasília, realizava um debate sobre a Batalha de Cuito Cuanavale, com participação de embaixadores de Cuba, Angola, Namíbia e África do Sul, agora livre do apartheid.



O texto firmado por Condolezza e o Ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, afirma que Brasil e EUA "partilham a característica de serem sociedades democráticas multi-éticas e multi-raciais", o que teria motivado um comentário de Fidel Castro em uma de suas Reflexões do Comandante: "É assombroso. Penso que é exatamente o contrário o que acontece nos EUA".



Sem dúvida, basta verificar as condições de vida da população negra que ainda hoje vegeta sob os escombros do Furacão Katrina, em Nova Orleans. Ou contar o contingente de negros nas prisões norte-americanas. Ou a quantidade de eleitores negros que foram sub-repticiamente retirados do cadastro eleitoral para assegurar a vitória suspeita de Bush nas decisivas eleições presidências na Flórida em 2000.



Quanto ao Brasil, sabemos que os negros são maioria nas prisões, nas filas do desemprego, entre os que recebem os salários mais baixos, entre os que vivem nas favelas, entre os que estão nas fazendas com trabalho escravo.



Num quadro dantesco como este, a simples existência de um Ministério da Igualdade, pode ser uma boa notícia, demonstrando a sensibilidade que o presidente Lula tem para a questão racial, afinal, um de seus grandes amigos na época da fábrica era um negro. Também é importante que uma das primeiras leis por ele sancionada é exatamente a que introduz a disciplina História da África nos currículos da escola brasileira.



Qual foi a nossa solidariedade?



No entanto, não se deve deixar passar a oportunidade para uma reflexão bem mais profunda, por exemplo, a partir da divulgação pela TV Brasil da histórica importância da Batalha de Cuito Cuanavale para a libertação da África do Sul e para o começo do fim do apartheid, permitindo às novas gerações tomar conhecimento de que houve um povo capaz de levar sua solidariedade à expressão máxima de concretude: Cuba socialista foi o único país que pegou em armas para combater o apartheid e para defender a independência de uma nação irmã ameaçada pela ação colonialista dos EUA em apoio à África do Sul e ao exército mercenário da Unita.



Ou seja, nada pode ser mais assombroso, como disse Fidel, que a Condolezza venha reivindicar seu país como uma democracia multi-racial e multi-étnica.



Cuito Cuanavale deve servir também para os movimentos sociais, especialmente ao movimento negro brasileiro, para refletir que a solidariedade deve ter tradução real, pois não se tem notícia de que os nossos irmãos angolanos tenham recebido do movimento negro, em solidariedade, uma aspirina que fosse.



Enquanto que Cuba enviou para Angola 350 mil homens e mulheres, de lá trazendo apenas seus mortos e as medalhas desta vitória que jamais poderá ser apagada da consciência da humanidade. Muito se exalta que o Brasil é o país como maior população negra fora da África, mas qual foi a nossa solidariedade concreta quando ela foi tão necessária?



Quando vários estudos registram o seqüestro impiedoso de contingentes negros africanos para formar o escravagismo nas Américas, e isto é uma verdade cruel e inapagável, Cuba foi capaz de inverter o itinerário: negros, brancos e mestiços partiam do Caribe para a Mãe África que estava sendo estuprada pelo apartheid e pelos EUA para oferecer solidariedade, para lutar com armas nas mãos, ombro a ombro com angolanos e namibiamos e impor a primeira derrota, que tinha que ser militar, ao apartheid. Como disse Mandela, em Cuito Cuanavale se deu a virada.



Mas, uma virada marcada pela consciência das tropas cubanas de serem a continuidade histórica do internacionalismo proletário, de fazerem reviver o brado heróico de Stalingrado, de retomarem o exemplo revolucionário das massas vietnamitas que também derrotaram os EUA.



Para a África Cuba enviou negros, brancos e mestiços alfabetizados, cultos, um exército bem treinado, com consciência socialista, e que não esteve em Angola para rapinar petróleo ou de diamante, como hoje fazem de modo selvagem e assassino as tropas norte-americanas no Iraque. E a solidariedade cubana com a África não se esgotou naquela histórica epopéia militar: hoje milhares de médicos e professores cubanos trabalham em dezenas de países africanos.



Segundo a Organização Mundial da Saúde, o contingente de médicos cubanos na África supera o número de médicos que todos países ricos somados têm hoje naquele continente que tanto rapinaram....Por isso, é indispensável um debate mais aprofundado sobre o papel de Cuba e Angola na luta contra o apartheid, pois, não faz nenhum sentido falar da luta contra o racismo desconhecer esta contribuição, ignorar a dimensão histórica da Batalha de Cuito Cuanavale e, ao mesmo tempo, tomar como exemplo de luta anti-racial o modelo norte-americano, quando foram os EUA os principais sustentadores do apartheid.



Recomendação ao Ministro Edson Santos: que tal promover um debate sobre a Batalha de Cuito Cuanavale na TV Brasil, exibindo lá os excelentes documentários cubanos sobre esta guerra de libertação, com o que poderíamos furar este enorme bloqueio informativo contra esta verdadeira façanha histórica realizada por Cuba para derrotar o criminoso regime do apartheid?



O momento é importante, não apenas pela data, mas também porque uma das missões que trouxe Condolezza Rice ao Brasil é a de intimidar a comunidade de países sul-americanos diante da excelente proposta brasileira de criação de um Conselho de Defesa do Atlântico Sul. Há quem acredite que ela veio aqui para combater o racismo, mesmo sendo tão assombroso acreditar nisto.



Beto Almeida, jornalista

23 de março de 2008

Homer Vive!

Do sáite pixeloo, enviado por Heitor Pitombo

J. D. Salinger Bebe Mijo e Isto Não é uma Frase de Efeito

Ele segue aquele tratamento de beber a própria urina. Tá com mais de 80 anos.

Humorista do Casseta & Planeta Diz que Glauber é uma Merda

Ué, mas o Cassetaeplaneta não tinha morrido na Alemanha na época da Copa?

março 26, 2008

Wilson Simonal

Quando comprei meu primeiro CD player que tocava cd de MP3, em 2001, ainda não existia banda larga - baixar música pela rede era tedioso e trabalhoso. Associei-me então a uma locadora de discos numa galeria na Voluntários e comecei a comprimir montes de artistas que mal conhecia. Entre eles, Simonal.

Meu pai adorava Simonal e Martinho da Vila. O primeiro show a que fui na vida foi do negão. Minha tia nos arrumou ingressos grátis. Guardo poucas lembranças - uma delas que foi na Princesa Isabel, no teatro homônimo (antigamente cantores davam shows em teatros); outra, da luz que seguia o cantor o tempo todo e de que meu pai me apontou na saída o Simonal saindo, "num conversível". Eu não sabia o que era conversível e nem me lembro de tê-lo visto, mas me lembro do meu pai me explicando o que era um carro que arria a capota - e aquele, ainda por cima, automaticamente!

O Cláudio Manoel agora está lançando um documentários sobre o Simonal. Não vi o filme, mas já vi entrevistas do Casseta explicando que o Wilson foi perseguido por ter recebido o epíteto de dedo-duro e ligado ao regime militar. Bem, pra fazer o longa, o Cláudio certamente devia ser fã do negão e fãs têm uma irritante mania em não entender como os mortais podem não apreciar as infindáveis qualidades de seu ídolo... e, trabalhando diariamento ao lado de Marcelo "cansei" Madureira, achar que as "patrulhas ideológicas" foram as culpadas pelo ocaso de seu objeto de admiração acaba sendo uma conclusão lógica.

O que teve de gente nos anos 70 e 80 creditando seu insucesso às "patrulhas ideológicas" não foi mole. Curiosamente, o sujeito mais perseguido intelectualmente, aquele que era o próprio símbolo-mor da alienação e da rendição à indústria cultural, virou essas décadas batendo récorde após récorde de vendagem e se tornando uma lenda viva. E ainda hoje Roberto Carlos é vítima de preconceito: João Máximo, alguns anos atrás, numa matéria justamente sobre Simonal, dizia que ele tinha sido substituído no gosto popular por "artistas menos talentosos, como Roberto Carlos".

Para quem, como eu, gosta de ouvir Wilson Simonal, mas não é seu fã incondicional, outros fatores ficam muito mais claros. Até porque a intelectualidade de esquerda dos anos 70 adoraria ter todo o poder que os fracassados daquela época lhe atribuíam. Simonal saiu de moda simplesmente porque seu estilo saiu de moda. A reportagem de hoje no Globo conta como ele estava falido em 1972 e mandou dar uma surra no seu contador, a quem acusava de roubo. Tudo bem que seu mau-caratismo pode ter criado um clima inamistoso no meio musical, mas essa época marca o fim de toda uma era da música brasileira. A começar pelos Festivais da Canção, que desapareceram por essa altura, 72, 73.

Ainda em 68, 69, não me lembro bem, Caetano levou uma vaia estrondosa por se fazer acompanhar de guitarras (tocadas pelos Mutantes) na apresentação de festival de É Proibido Proibir. Em 1972, 1973, todo mundo usava guitarra. Enquanto isso, ouvir um disco de Wilson Simonal era viajar até a época de Frank Sinatra produzido por Nelson Riddle. Uma big band ao fundo para acompanhar um puta cantor, é verdade, mas num esquema quase de crooner. Como ele não compunha e mantinha esse estilo anos 60 (início de anos 60), foi alienando seus compositores. Antônio Adolfo lhe escrevera Sá Marina, mas nos anos 70 estava trabalhando com arranjos mais "soul", como os do Trio Ternura. Caminho também enveredado, por exemplo, por cantores como Toni Tornado, citado na reportagem do Globo e no longa.

Como sambista, ele estava ficando para trás à velocidade da luz. Ouvir as então emergentes Clara Nunes e Beth Carvalho e comparar com ele era covardia. E elas lideravam justamente uma ressurreição do samba como música de sucesso. Mesmo os artistas menos queridos pela intelectualidade, como Originais do Samba e Benito di Paula, tinham uma sonoridade muito mais contemporânea. Ouçam a gravação dele de "Pata Pata", muito mais conservadora do que o original de Miriam Maakeba. Também é bizarro ouvir letras com humor um tanto grosseiro de duplo sentido com toda aquela elegância orquestral ao fundo.

Sem grandes compositores para lhe dar apoio, seu repertório perdeu em muito a qualidade. Lembro-me de um vinil do começo dos anos 70 que meu pai tinha do Simonal, em que usei uma das músicas num trabalho de colégio, (não me lembro do nome, mas era uma que tinha o estribilho "Credo em cruz Ave Maria É feitiço É mandinga É bruxaria Credo em Cruz Ave Maria") e que não tinha nenhuma canção de destaque. E tudo com big band ao fundo. Também não deve ter ajudado muito que ele mesmo chamasse seu estilo musical de "pilantragem". Ao fim do milagre econômico, às vésperas das eleições que o MDB levou de lavada, mostrando o início do descontentamento com a ditadura, o clima não estava para se ouvir sujeitos cantando como gostavam de levar vantagem em tudo e que o mundo era dos mais espertos (ei, isso soa muito neoliberal; será coincidência que ele tenha sofrido uma reavaliação nos últimos tempos?). Roberto Carlos, por exemplo, mudou sua sonoridade e nessa época, antes de aderir à trepada musicada, fazia tremendo sucesso com letras deprimidas. O Brasil, apesar de todo EU TE AMO MEU BRASIL tinha inegavelmente um clima meio triste na época (sem contar que o mundo podia acabar a qualquer momento envolto em chamas atômicas, quem não esteve lá não sabe o que era essa paranóia).

Simonal fazia um sucesso estrondoso e saiu de moda. Maria Alcina e Toni Tornado também. Martinho da Vila, outro que meu pai adorava, lançou dois discos que venderam feito água, CANTA CANTA MINHA GENTE e AQUARELA BRASILEIRA, e depois sumiu durante um bom tempo. Benito di Paula foi eleito o cantor mais popular do Brasil e não faço a menor idéia de por onde ele anda. Enquanto isso o mais patrulhado ideologicamente artista de todos os tempos, Roberto Carlos, não lança um disco de verdade há muito, muito tempo, mas é notícia o tempo todo, enquanto que todos os seus companheiros de Jovem Guarda foram moídos pela Roda da Fortuna. Cultura de massa é assim mesmo - impiedosa e imprevisível. E, como na citada carta do tarô, jamais perdoa aqueles que teimam em permanecer agarrados à sua circunferência, mesmo quando ela já saiu de cima e se encaminha para baixo. O lugar para se estar é o centro.

março 25, 2008

Mário Quintana

O despertador é um acidente de tráfego do sono.

O bom da chuva é que parece que não tem fim.

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos
dois é burro.

O primeiro sinal da incompreensão é o riso; o segundo, a seriedade.

Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.

Amar é mudar a alma de casa.

A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.

Só o que está perdido é nosso para sempre.

Quem nunca se contradiz deve estar mentindo.

Um lugar só é bom quando a gente pode fugir para outro lugar.

(Enviado por Xatto)

Dona Tetê

Pelo próprio criador, Mort Walker
(Enviado por Heitor Pitombo)

março 24, 2008

Pungente Homenagem




Terceiro Olho?????

A cabeça de baixo não é cega?

Um Celular no Encontro de Carros Antigos na Praça XV

Lívia Rosa dá o ar de sua graça, um tanto distorcido pela grande angular do LG Shine, que aliás pifou hoje, com menos de dois meses de uso. Vocês vão ficar um tempo sem flagrantes de rua novos.







Menos de Um Mês com Contador

E dois mil acessos. E botei o contador em 26 de fevereeiro porque ninguém postava comentário e achei que NINGUÉM lia isto. Quem é esse povo tímido todo?

março 23, 2008

Por Que Assistir a Filmes Antigos?

Minha sobrinha (1) de 15 anos dizia que nunca tinha visto um filme em preto-e-branco. Minto, ela tinha sido obrigada a ver um no colégio, O GAROTO, de Chaplin, e achou chatíssimo. Segundo ela, ela ficava nervosa pela falta de cor, ficava agoniada e não conseguia prestar atenção.

Pra mim isso tudo era completamente absurdo. Quando eu era criança nem existia tevê a cores (fomos dos primeiros da rua a ter, minha mãe obrigou meu pai a se endividar todo pra comprar uma Colorado RQ na Rei da Voz de Copacabana, onde hoje é uma Arapuã). Os lares, na minha infância, costumavam ter apenas um televisor. Quando ele quebrava - o que era muito comum, na época das válvulas, levava vários dias até o técnico consertar e éramos obrigados a ficar sem nossos programas favoritos. Lá em casa, minha mãe, filha de jogador profissional, aproveitava pra fazer a gente ficar jogando buraco a noite toda.

Mas estou fugindo do assunto. A Philco lançou a seminal Philco Amazonas, a primeira tevê portátil do Brasil, completamente transistorizada, que podia ser ligada à bateria de um carro. Relativamente barata, ela abriu caminho para a popularização da segunda televisão das casas. Na minha adolescência, eu e minha irmã tínhamos cada um nosso televisor. Preto-e-branco e com telas de 12 polegadas. Mas quebrava o galho direitinho.

Assim, éramos produtos de uma época de transição. Durante o monopólio monocromático, as estações de tevê não hesitavam em preencher seus horários com antiguíssimos enlatados comprados baratinho - seriados da Republic dos anos 30 e 40 (eu vi no Capitão Aza clássicos como O Homem-Foguete), Charlie Chan, os Intocáveis, os Batutinhas e até velhas comédias mudas "one-reelers" ou "two-reelers" (2) de Mack Senett e outros, compiladas em shows de meia hora sob o título "Comedy Capers" (Os Reis da Comédia). Mais tarde, em nossa adolescência, assistíamos a programas "inteiramente em cores" na tevê da sala (depois no quarto de nossos pais) e outros durante os deveres de casa ou no mesmo horário que a novela em nossos dormitórios.

Como resultado desse ecletismo, os cinemas volta e meia programavam clássicos em preto e branco, sabendo que havia um público para comédias mudas (vi relançamentos de filmes do Chaplin em cinemas, como Luzes da Cidade e Tempos Modernos, que passaram não em um cinema de arte, mas em circuito comercial), faroestes em p&b(cheguei a ver também No Tempo das Diligências em circuito) e afins (lembrem-se também que não havia vídeo-cassete e a única chance de ver uma coisa dessas na tevê seria numa sessão de madrugada). Por isso tudo que a idéia de que um filme monocromático era insuportável e de que Chaplin era chato me pareceu tão absurda. Se ainda fosse a irmã dela, bonitinha e saidinha, e, portanto, popular e nada nerd...

Bem, aproveitando que levei as duas irmãs para umas sessões do ANIMA MUNDI e a Carolina, a gordinha nerd, gostou de um desenho que remetia a Casablanca, falei que ia emprestar-lhe esse filme, bem como A NOITE DOS MORTOS-VIVOS, já que ela, como os adolescentes nerds de hoje em dia, adora zumbis (e samurais).


Casablanca ela viu até o fim, embora sem maior entusiasmo. Gostou do personagem do Humphrey Bogart, mas achou o ator estranho (tudo bem, um dia ela vai entender). Não entendendo de II Guerra Mundial ou de paixões obssessivas (por falta de experiência no assunto), ela ficou voando um pouco na história. Mas descobriu de onde vinham 5.248 piadinhas dos Simpsons (e um monte de outros desenhos e comédias) e veio me perguntar se aquele filme foi o primeiro a ter aquele final, do "este é o início de uma bela amizade", porque, quando ela ouviu o Rick falando isso, pensou "puxa, um filme tão legal terminar com uma frase tão batida... espere... filme antigo... frase antiga... e aí se tocou.

Mas o que realmente a animou foi A NOITE DOS MORTOS-VIVOS. Ela ADOROU a fita. Mesmo com os efeitos pobres, a trama realmente a surpreendeu, com o herói completamente ineficiente, a morte da mocinha ("puxa", disse ela que pensou ao ver a cena, "com quem será que o mocinho vai ficar então?", pensamento que trai sua insentida submissão a fórmulas de histórias) e do próprio mocinho. Conversamos sobre o filme, expliquei a ela que a atual preferência de zumbis como monstros de filmes de terror (nos meus anos adolescentes, eram os vampiros) reflete o medo (aqui) de pobres e favelados ("pense, Carolina, quem você conhece que anda com roupas velhas- - e rasgadas, fala mal, está sempre com fome e a pele toda marcada?") e de pobres terceiro-mundistas terroristas (nos EUA). E tudo isso 40 anos atrás, reforcei. Ela parou, pensou um pouco e disse:

- Puxa, em 40 anos o filme de zumbi não mudou nada...

Esse é o grande motivo de se ver esses filmes antigos. O Estação Botafogo, quando começou, dependia da Cinemateca do MAM para grande parte de sua programação. Isso afastou o povo do museu longínquo, ermo e sem bares e esticadas por perto. Até o ponto de ônibus ficava longe. Quando o povo do Estação começou a trazer filmes alternativos contemporâneos, tirou da programação os clássicos e os cineclubes que exibiam essas coisas já tinham perdido seu público. Como resultado, a nova geração de cinéfilos não tem formação clássica. Podem tentar compensar com DVDs, mas todos sabemos que em casa a preferência acaba recaindo mais para filmes pipoca. Não há tanta concentração como na sala escura com tela grande e nem sequer há um programador. O candidato a intelectual cabeça tem que descobrir sozinho ao que assistir e onde achar esses negócios para alugar no mundo da Blockbuster/Americanas Express. E nem há também aquele sentimento comunal de ir com a turma da faculdade adquirir cultura indo ver essas coisas obscuras.

E, sem formação clássica, o que acontece? As pessoas se tornam vítimas de cineastas que repetem truques de outras eras. Impressionam-se com mais facilidade com truques de estilo. Críticos de cinema botam bonequinho batendo palmas de pé para até 15 filmes em cartaz - essa deveria ser uma cotação apenas para clássicos da sétima arte, mas qualquer fita com uma gramática e preocupações diferentes enche os olhos dessa turma. O que é melhor do que achar que filme bom é aquele que concorre ao Oscar, é claro, mas ainda assim não é o ideal. Seria melhor que eles pegassem um monte de filmes mudos, expressionistas, assistissem a velhos seriados, a filmes do Ford e do Hawks, pra ver como foi sendo construído o cinema e como ele funciona, exatamente.

Quanto à minha sobrinha, a coisa vai bem. Sendo nerd desta era, ela acha O SENHOR DOS ANÉIS uma grande obra-prima, e eu dizia que gostava do primeiro filme, que corria como um épico clássico, majestoso, impressionante, achava o segundo mais ou menos, parecendo um filme de ação como outro qualquer e achava o terceiro um lixo, e que se tirassem todos os slow motions, em vez de 3 horas ele teria 40 minutos. Ela me explicou que o que ela menos apreciava era justamente o primeirão, por ser "muito devagar". Outro dia ela discordou completamente de mim depois de uma sessão de O PODEROSO CHEFÃO - como eu poderia ter pensado que essa fita era lenta? E Nosferatu do Herzog, segundo ela, é um dos melhores filmes que já viu. Aproveitando sua queda por samurais, exibi-lhe OS SETE SAMURAIS e YOJIMBO e ela já virou fã do Toshiro Mifune e quer ver RASHOMON, depois que lhe contei a história - e também porque o T. M. faz o seu irresistível bandido abusado. Ela viu o trecho de A CORRIDA DO OURO do Chaplin que eu lhe contara, da cabana na beira do precipício, e achou engraçadíssimo. E o ápice de tudo foi quando lhe emprestei dois clássicos da violência japonesa - o P&B ESPADA DA MALDIÇÃO e o technicolor LOBO SOLITÁRIO. Ela me devolveu os discos e quando perguntei se gostara, ela respondeu:

- Gostei mais de ESPADA DA MALDIÇÃO, que é mais visual.


(1) Na verdade é minha prima de 2o. grau, mas o pai dela morava no mesmo prédio que eu e é quase meu irmão, e a mãe dela é uma amiga de infância.

(2) Tudo bem, você é um intelectual cabeça e sabe o que é isso, mas novos leitores como Lívia Rosa, uma dessas cinéfilas cronocêntricas da nova geração, nunca assistiram a essas comédias mudas que eram esquetes estendidos que duravam o tempo de um rolo de projeção da época (5 minutos), ou dois rolos (10 minutos)

março 22, 2008

Jam Session

Quando os carros começaram a comer as pessoas, a vida sexual de muitos adolescentes começou a ter bastante problemas. Ainda mais que os motéis aumentaram os preços tremendamente, os bons tempos haviam voltado. Começaram alguns a dizer que a culpa era do Itamar Franco.

- Desde aquela história do Fusca...

O Fusca, entretanto, não estava envolvido nos casos de mastigação de usuários. Diziam seus admiradores que era por causa do forte laço emocional e a mística que o envolviam, diziam seus detratores que era a falta de potência do motor refrigerado a ar e o desenho obsoleto que não favoreciam a antropofagia. Não se sabe o motivo da inércia do carrinho, mas de qualquer forma o valor de revenda do Fusca aumentou incrivelmente e Itamar Franco foi à tevê.

- Viu? Eu não disse?

Os engenheiros enlouqueciam. Talvez tivessem posto tantos chips nos carros que criaram sem saber a inteligência artificial. Talvez a excessiva simbolização em cima daquelas potentes e viris máquinas houvesse transferido a eles uma certa alma, um certo karma. Inclusive, rapidamente a turma do Casseta & Planeta lembrou que é o karma sim, gente, lembrem-se, O KARMA GUIA!, mas essa piada submergiu rapidamente depois que o Bussunda foi fagocitado por um Land Rover Defender chassi longo.

Alguns ainda duvidavam que seu automóvel, a quem dedicaram tanto carinho e afeto, sem falar na grana, pudesse traí-los e os usava, mas no geral as ruas ficaram vazias e os pedestres ganharam novamente as calçadas. Os biscateiros que só arrumavam um trabalho de vez em quando imediatamente avisaram os patrões que não iriam trabalhar. Os lutadores de jiu-jitsu dirigiam para provar que eram machos e atropelavam uns pit-bulls pra comprovar. Mas, no geral, era a aurora de um novo tempo. Sem barulho, sem poluição, sem consórcios.

Bons Tempos que Não Voltam Mais


De qualquer forma, a foto é ótima.

março 21, 2008

Um Corpo na Biblioteca Capítulo 3


O mistério se adensa! Ouça o primeiro e o segundo capítulos antes!

março 20, 2008

Escuna na Baía de Guanabara 2007

Jaciara
Heitor
Inês
Pão de Açúcar de outra perspectiva
Baía de Guanabara

março 19, 2008

A Perda da Inocência

E também uma análise de Hergé, um dos Vinte Gênios dos Quadrinhos


Quando era moleque, curtia de montão Tintin. Suas aventuras convolutas, a famosa linha clara de Hergé (outro que botei entre os 20 gênios dos quadrinhos), sua impressionante habilidade em criar um mundo onde conviviam personagens caricaturais com armas, veículos e cenários detalhados e realistas (vejam a beleza que é o navio pirata d´O Segredo do Licorne), sua famosa auto-crítica de estereótipos n´O Loto Azul, o humor que não atrapalhava a ação e o bom gosto no uso de clichês, em álbuns com tramas mais complexas e refletindo a passagem do tempo (as aventuras colonialistas sendo substituídas aos poucos por histórias mais politizadas, envolvendo golpes de Estado, misticismo, drogas, discos-voadores e afins), tudo isso tinha um tremendo apelo para a garotada da minha época. Vendia em qualquer jornaleiro, em livrarias e lojas de departamentos.

Com o tempo, a morte de Hergé, a ascensão dos super-heróis violentos nos anos 80, a ficção científica barroca e erótica dos Humanóides Associados (mesmo incluindo declarados fãs e seguidores da linha clara de Tintin) e a própria visão de mundo cronocêntrica da geração seguinte, os álbuns foram desaparecendo e Tintin no Brasil caiu meio no esquecimento. O Cartoon Network passou uma série mais ou menos (embora extremamente fiel aos quadrinhos) do personagem nos anos 90, no segmento mais "aventua", à noite, perto do novo Jonny Quest, antes desse tipo de desenho ser monopolizado pelos animês, mas isso não aumentou a popularidade do adolescente. Agora, parece que o Spielberg finalmente está realizando um velho projeto e filmando as aventuras do jovem repórter, filme que não pôde sair até hoje por causa de uma briga com a família.

A origem da briga é que o Spielberg queria que o Tintin tivesse uma namorada, enquanto a família do Hergé era veementemente contra, por bater de frente com o cânone do personagem. Pois não é que pela primeira vez me ocorreu pensar "o que um adolescente já quase nos 20 anos que nunca foi visto ao lado de uma garota faz passando temporadas dormindo com um marinheiro solteirão num castelo cheio de tesouros de arte?" De lá pra cá eu não consegui mais ler as aventuras do jovem repórter sem pensar nisso e, depois que comecei a contar isso pros meus amigos quadrinhófilos já teve gente me dizendo que o Hergé teria tido sérios problemas psicológicos e tentado o suicídio por ser um homossexual reprimido, embora deva se considerar que hoje em dia se diz de todo artista morto que ele era um homossexual reprimido - já li até uma crítica de Andersen que explicava que ele nunca conseguiu escrever para adultos ao nível de sua literatura infantil justamente por isso (embora suas cartas de amor a um bailarino não pareçam indicar que ele fosse tão reprimido assim). A crítica prosseguia falando que O Patinho Feio era uma metáfora para sair do armário. Falando em forçação de barra...(1)

Espero que o filme seja maneiro e saia logo. Mais homoerótico eram o Batman e o Robin e o Clube do Bolinha, que era justamente o público-alvo disso tudo. Garotos até uns onze, doze anos. Depois eles descobriam as meninas e esqueciam essas bobagens de quadrinhos. Só o Will Eisner achava que esse tipo de literatura tinha valor artístico. Mas, já que estamos aqui falando de Hergé, ao contrário do artigo sobre Al Capp, vou logo comentar por que ele está na minha lista de Vinte Gênios dos Quadrinhos.

A caricatura convivia perfeitamente com o realismo e detalhismo dos cenários. Hergé não usava sombreados, hachuras ou mesmo fino e grosso de nanquim. Scott McCloud já dizia em Understanding Comics que os mestres da cor plana são mestres da forma, como bem exemplificado neste painel


Hergé é o criador da famosa linha clara. Role algumas postagens para baixo até encontrar "Como diferenciar um japonês de um chinês" (ou veja aqui, em uma nova janela), desenhado por um dos mestres do claro/escuro, Milton Caniff. Note que a linha de contorno, a linha que envolve e dá forma aos personagens, não tem a mesma grossura em todo seu comprimento. Em alguns lugares ela é mais fina e em outros, mais grossa. Isso é o que se chama de "fino e grosso". Ajuda a criar uma ilusão de volume e é obtido pressionando-se o pincel (ou a pena) contra o papel; as cerdas (ou a pena) se abrem e fazem a linha mais grossa. Alguns profissionais inclusive avaliam a qualidade técnica de um ilustrador pela sua capacidade de num movimento contínuo e ágil, sem tremidas, fazer as longas linhas contínuas, tais como do braço ou da perna. Esse recurso também ajuda a dar "movimento", sugerindo mais fluidez e velocidade.

Hergé não usa o fino e grosso. Ele trabalha com uma linha de contorno contínua e homogênea. Ele também não tem arte-final carregada, ou seja, não usa sombreados e nem hachuras. Compare novamente com o excesso de tinta preta usado por Caniff na postagem sobre japas e chinas. A cor tampouco usa tons ou semi-tons: cada objeto fechado tem uma única tonalidade. Tudo isso dá ao quadro um ar estático, sem volume, sem vida. É preciso um mestre em perspectiva, movimento humano, volume, composição e escolha de cores. Felizmente Hergé é tudo isso.
Clique na imagem para vê-la em todo seu esplendor, em outra janela


Em "Entendendo Quadrinhos", Scott McCloud explica que os mestres da cor plana, isso é, sólida e sem tonalidades, são também mestres da forma, e escolhe como seus dois exemplos Jack Kirby e Hergé. Jack Kirby carrega na arte-final, Hergé não. Seu desenho é limpo e elegante. Seus personagens, para tirar o ar estático dado pela linha de contorno homogênea, quase sempre são retratados NO MEIO de um movimento, ao invés de no final ou no início, o que é o mais comum. Tintin, depois de alguns álbuns, não era publicado em tiras de jornal e, ao invés de simplificar os cenários ao fundo, para não empastelar o quadro, Hergé pode caprichar nos detalhes, sabendo que os leitores poderão distinguir todos os objetos em cena graças à cor bem escolhida da boa impressão que a historinha teria.


Hergé também tinha grande consciência de técnica narrativa, embora conservador. Seus planos mudam sempre para enfatizar a ação e enquadrar quem está falando, dinamicamente. Seus rostos, apesar da simplicidade, são expressivos. E sua composição sempre agradável. Vejam o exemplo acima (sugiro clicar na imagem para poder vê-la em detalhes, em tamanho maior): no primeiro quadro, o mestre da forma ataca novamente, criando um painel quase surreal. No segundo ele destaca o que interessa da cena, o militar tentando fazer o motorista correr para chegarem a tempo de salvar os Dupondt. O mais importante da cena é o sujeito falando que vai ser impossível correr nas ruas cheias, para diminuir as esperanças de salvamento, portanto é ele quem é retratado de frente, enquanto o milico aparece de costas. Finalmente, o terceiro e silencioso quadro. A grandiosidade do primeiro, a movimentação excessiva das pessoas e a explosão de cor, tudo nos leva a imaginar imediatamente a barulheira do carnaval. A proximidade dos dois personagens logo a seguir também nos sugere que estejam gritando para se fazerem escutar. A sequência se encerra com uma tomada silenciosa. A formalidade e simetria dos gestos dos militares, sua ordem unida, ao contrário dos caóticos movimentos mostrado antes e a falta de balões imediatamente remetem a um soturno e sombrio silêncio. A sensação é magnificada porque o ângulo dos fuzileiros, a inclinação de seus fuzis e suas pernas, formam uma espécie de seta que "aponta" para os detetives, de preto da cabeça aos pés, pequenos (e, portanto, oprimidos) ao fundo. Os infantes de verde estão literalmente apontando diretamente para nossos heróis, com o preto (cor da morte, cor do luto) carregado aumentando a dramaticidade. Como nota complementar, reparem nos pés dos milicos, todos com a planta pousada no chão, transmitindo perfeitamente o peso dos corpos deles pressionando a bota contra o solo, já que Hergé dominava também essa técnica perfeitamente.
Um mestre da forma


As histórias de Hergé eram cheias de humor e suspense, com perseguições mirabolantes e tramas convolutas. Ele abusava de alguns clichês, como o cigarro que o bandido esquecia na cena do crime (um dos dez erros fatais para escritores de mistério, segundo o escritor policial S. S. Van Dine), mas em compensação mantinha sempre sua narrativa num certo nível de credibilidade condizente com o realismo dos cenários. Tintin não era excepcionalmente forte ou rápido. Tinha MUITA sorte e pensava MUITO rápido, mas não saía na porrada com sujeitos bem maiores do que ele e vencia. Várias vezes se diz que ele tinha boa pontaria, mas ele nunca mata ninguém, embora esteja constantemente armado. Como já dito, também, Hergé nunca se ateve à época da criação do personagem. Ao contrário de outros autores, acompanhou a passagem do tempo; é verdade que Tintin usou bombachas durante tempo demais, mas suas roupas de viagem se modernizaram bem mais rápido e no último episódio, "Tintin e os Tímpanos", ele até usava jeans. Carros, aviões e armas eram as da época em que o álbum estava sendo escrito e não da criação do personagem. Nos anos 50 ele foi à Lua num projeto do Professor Girassol, extremamente bem escrito, plausível e abordando vários problemas reais de uma viagem de tal porte. Em "Vôo 707 para Sidney" ele encontrou discos-voadores e em "Tintin e os Tímpanos" se meteu com guerrilheiros latino-americanos.

As primeiras aventuras de Tintin, para conseguir cor e exotismo, se passavam nas distantes colônias européias e, como não podia deixar de ser, retratavam a visão racista de um branco europeu; ao contrário de Hugo Pratt (autor mais tardio e que foi muito influenciado por Hergé) ele não estava interessado em antropologia ou nas culturas locais. Entretanto, quando anunciado que ele escreveria uma história sobre a China, um fã local seu mandou-lhe uma carta pedindo que, por favor, não os retratasse com os velhos esterótipos racistas dos caucasianos da Europa. A carta encontrou seu caminho no álbum quase ipsis literis através das palavras de Tchang (veja ilustração abaixo; clique nela para ver em tamanho maior) e desde então ele fez um esforço consciente para ser politicamente correto (embora nem sempre o tenha conseguido, é claro).

Mas quem se importa com isso? Um garoto quase da nossa idade vivia um monte de aventuras nos locais mais estranhos, dirigindo carros, aviões, navios, submarinos, atirando com revólveres, metralhadoras, fuzis, enfrentando vilões coloridos, quase morrendo de sede, insolação, fome, sempre seguido por seu fiel (e alcoólatra) cachorro. Não tem garotas? Tudo bem, era escrito para a molecada pré-púbere mesmo - essa história de adultos retardados lendo gibis em vez de cuidar da vida é coisa do mundo pós-industrial. E ainda tinha conceitos sensacionais, como radjadjah, o veneno que enlouquece, com o pessoal que era atingido por ele sempre tentando contar o que sabia antes que ele fizesse efeito: "Vou contar o que sei. A esfinge está enterrada no... Lalarilarara... Eu sou uma flor de laranjeira! Oh! Chego a rir de me ver tão bela nesse espelho!" "Pobre coitado... o radjadjah não tem cura...". E os personagens secundários. Os inesquecíveis xingamentos proparoxítonos e multissilábicos do Capitão Haddock (Ectoplasma! Octópode! Filibusteiro!). Tudo isso fazia de Tintin um barato. Pena que com a morte do Hergé, o "Walt Disney Europeu" (como era chamado nas introduções dos álbuns) tenha caído em relativo esquecimento pela nova geração, que deixa de conhecer uma alternativa elegante e bela para os hiperativos quadrinhos japoneses (e americanos imitadores).
No primeiro quadrinho, Tintin está com um pé sem contacto com o solo. Hergé adorava retratar caminhadas assim, com os personagens mostrados no meio do movimento. Milou está em pleno salto. Em seguida, embora estático, em vez de ter simplesmente virado o rosto, Tintin virou todo o corpo. Os quadrinhos seguintes têm como centro o avião, mas, no final, Tintin e Milu correm bidimensionalmente com os pés no ar, numa pose icônica e típica das aventuras do jovem jornalista. Hergé era um mestre da movimentação, dos volumes e da perspectiva, o que era necessário para fazer a linha clara funcionar.



(1) A palavra "forçação" é a maior forçação.

março 18, 2008

Ah, Esses Playboys da Tijuca...


O bonde eletrificou-se primeiro no final do século retrasado, início do passado, no Alto da Boavista. A região, que até hoje é erma, naquela época então devia ser A Casa que Faz a Curva Onde o Caralho Perdeu as Botas no Vento, o que leva a pensar por que então recebeu primeirona um moderníssimo - e caro - meio de transporte. Segundo a Suzy, cujos pais trabalham com história do Rio, do serviço público e do transporte, é porque lá havia ainda cafezais e fazendas importantes para o abastecimento da região metropolitana e o sistema de carga seria muito importante. Assim, os carros de passageiros vieram a reboque (sacou? Bonde? Reboque? Hein? Hein?) daqueles de mercadorias.

Assim, temos na foto um dos primeiros bondes elétricos no Rio, naquela pracinha do Alto da Boavista, facilmente reconhecível, em frente àquela casa que já foi o Robin Hood, com aquele barzinho, cujo nome infelizmente esqueci. A casa grande e escura ali atrás acho que tá lá ainda até hoje. Mas pra gente não esquecer que aquela área era já na época a Tijuca, podemos ver playboys a cavalo apostando corrida com o carril, à direita da foto. Velhos e maus hábitos atravessam os séculos, mesmo que meios de transporte não-poluentes e interessantes não.

A foto vem do sáite Saudades do Rio, que está relacionado em meus linques como "Centenas de fotos do Rio Antigo".

Bushismos

"Eu acredito que o ser humano e o peixe podem coexistir pacificamente" (George W. Bush)

Quatro Lendas Urbanas sobre Roberto Marinho

1. A Tv Globo, mesmo no auge da onda retrô dos anos 80, quando passava no Classe A diariamente filmes preto-e-branco, noir, cheios de Humphrey Bogart e Hitchcock, nunca exibiu Cidadão Kane por causa das semelhanças com a vida de um outro certo jornalista dono de jornal órfão que tornou-se muito poderoso.

Na verdade, a Tv Globo parecia ter um desprezo quase completo por Orson Welles, a não ser como ator, mesmo assim marginalmente. Seus horários destinados a filmes antigos nunca passaram nenhum Welles: nem Kane, nem Soberba, nem a Dama de Shangai, nem O Estranho (exibido às vezes na TvE), nem A Marca da Maldade (também passou na TvE), nem Grilhões do Passado, nem O Processo (também exibido na TvE), nem Verdades & Mentiras.

2. Roberto Marinho promoveu a idéia da Olimpíada no Rio em 2004 para coincidir com seu centenário.

O velho dono da Globo nunca se mostrou particularmente vaidoso ou megalomaníaco, apesar de todo o poder de que dispunha. Preferia ficar nas sombras, em vez de se envolver diretamente em política ou nessas promoções. Pouco provável.

3. O Túnel Rebouças não tem saída no Cosme Velho em seu sentido Tijuca-Zona Sul porque Roberto Marinho não queria acesso direto de suburbanos à porta de sua casa.

Não sou da época, mas acho que, quando da construção do Rebouças no começo dos anos 60, antes da fundação da Tv Globo em 1965, o Robertão ainda não tinha esse poder todo. Talvez ele tivesse alguma amizade pessoal com o Lacerda, ou, mais provavelmente, uma pressão dos moradores em geral daqueles casões que têm lá na subida das Paineiras tenha levado os administradores da cidade a não criarem essa saída.

4. Roberto Marinho temia que, assim que morresse, seus herdeiros levassem a Tv Globo para São Paulo e, por isso, insistiu na construção do Projac, para tornar essa mudança impraticável.

Bendito seja o Projac, porque se o Rio de Janeiro ainda (apesar da insistência dos paulistas) é o centro cultural do Brasil é porque a Tv Globo é o pólo disseminador da cultura carioca. Existem certos indícios concorrendo para a veracidade de pelo menos parte desta história. As Organizações Globo sempre tiveram uma preferência por alugar seus imóveis em vez de comprá-los, o que, numa economia (e política) instável como a nossa, sempre foi uma boa opção - basta ver o elefante branco do extremamente pretensioso (e caro) edifício do Jornal do Brasil no começo da av. (dã) Brasil, que levou a empresa a se endividar e começou o lento ocaso do diário mais importante dos anos 70. Talvez Roberto Marinho realmente temesse o fim do Rio de Janeiro, ou talvez ele soubesse que o diferencial da Globo era justamente sua inconfundível carioquice e uma mudança para o altiplano paulistano a equalizaria aos concorrentes.

Alguém teria alguma informação sobre essas historinhas?

março 17, 2008

Al Capp Está Sendo Reeditado Online


A primeira tira de Ferdinando. Clicando nela, ela fica maior, dã

Ferdinando, a imortal criação do genial Al Capp, está sendo republicada tira a tira - e online - desde a primeira. Confiram (em inglês) toda a saga da inesquecível Brejo Seco, dos capirões inocentes e seus primos burgueses citadinos filhos da puta numa história anti-capitalista de um direitista. Diz a lenda que Al Capp despontou para a fama quando foi atropelado por um cartunista famoso que, ao ver seus desenhos espalhados pela rua, contratou-o. Falando em planejamento de carreira...

Acompanhe uma das melhores sátiras do século vinte nesta página da comics.com

Aliás, Quase uma Panorânica

Morro de São Paulo

Lounge e Telão no Caminho do Farol



março 16, 2008

Terá Sido o Caos Aéreo a Causa do Fim dos Pré-colombianos?

Vi o minúsculo broche abaixo de ouro pela primeira vez numa foto do picaretíssmo TRIÂNGULO DAS BERMUDAS, de Charles Berlitz, lá por volta de 76 ou 77, quando eu tinha 11 anos e ficava com medo ao ler sobre alienígenas raptando Avengers TBM e aviões de resgate. Na época me impressionou bastante, mas como o Berlitz foi o sujeito que depois ressuscitou o caso de Roswell e todas as histórias que ele contava eram suspeitíssimas, aceitei o parecer de que era o modelo de um inseto. Mas ontem estava vendo Inventos da Antiguidade no History Channel e topei com ele novamente.



Três cientistas alemães, , Algund Eenboom, Peter Belting e Conrad Lubbers argumentaram que era pouco provável que o modelinho de ouro representasse um artrópode: Não existe nenhum animal conhecido com asas embaixo do corpo. Então eles construíram um modelo em escala 1:16 e descobriram que o bicho voava. Perfeitamente - com propulsão a hélice ou a jato. Esses Quimbayas, da Colômbia, não conheciam nem a roda e faziam brochinhos que voavam. Provavelmente para contrabandear as drogas. O programa também testou um candidato a planador egípcio que caiu como uma pedra.

Provavelmente não é nada. Talvez uma alucinação de mescalina. Ou uma visão do futuro por algum quimbaya que tomou muito epadu. Mas num mundo que nos deu o Silvio Sales (breve numa nova postagem), o campeonato mundial de Air Guitar e o Festival Burning Man, não deixa de ser mais uma coisa para fazer deste um planeta bizarro, estranho e fantástico.

Naga - As Bolas de Fogo Tailandesas


No rio Mekong, aquele mesmo de Apocalypse Now, quase todo ano, por volta de outubro, bolas de fogo pouco maiores do que um ovo e avermelhadas saem das águas e sobem aos céus. Isto NÃO É uma lenda ou uma contrafação. Há registros centenários dessas bolas, conhecidas como Naga, e milhares de pessoas - e mesmo os repórteres da Time enviados para cobrir o fenômeno - as vêem em quantidade. A única dúvida é se seria um tresloucado fenômeno natural, soldados dos Laos do outro lado da fronteira lançando sinalizadores, algum outro tipo de fraude frustrante, como os sinais na plantação, ou se é mesmo o dragão que os moradores dizem morar embaixo do Rio. Mais informações podem ser encontradas na wikipedia ou na reportagem já citada.

O Melhor da Panelinha

"Esses israelenses sempre gostaram muito de guerra. É só ver o clássico TORAH TORAH TORAH" (Sérgio Garcia)

O Homem é um Bípede Implume (Platão)


Minhas Férias de Novembro - Morro de São Paulo





março 14, 2008

Uma Tijucana na Praia de Nudismo

ou Tenho a Inamovível Impressão de que Esqueci Alguma Coisa ao Sair de Casa