outubro 31, 2009

outubro 30, 2009

XKCD, por Randall Munroe


1. "Ei, belo netbook" "O quê?"
2. "Seu lépetopinho. Eu só..." 'Não, o que você está fazendo falando comigo"
3. "Quem você pensa que é? Se eu estivesse minimamente interessada, eu teria demonstrado"
4. "Ei, todo mundo, esse cara está me paquerando" "Ha, ha!" "Patético" "Vamos por sua foto no Orkut pra alertar outras..." "Caro blogue, o rapaz bonito do meu lado, continua me ignorando"




A Fronteira Final - A Primeira Temporada de JORNADA NAS ESTRELAS - A série clássica



O Senhor de Gothos


Anteriormente: Primeiro Comando

Delinquência juvenil espacial onipotente parece ser um problema sério na Via Láctea do século XXIII. Pelo menos é o que se depreende de “O Senhor de Gothos”, exibido pela primeira vez cinco meses depois de “O Estranho Charlie”. Em ambos uma criança mimada com superpoderes arma o maior auê na Enterprise até que seus pais venham levá-lo de volta puxando-o pela orelha, justo na hora em que o capitão Kirk (quem mais?) está lhes ensinando o que significa ser homem.

A fartura americana do pós-guerra, que transformou os Estados Unidos numa enorme nação de classe média criou a famosa cultura suburbana dos anos 50. Subúrbios lá, como os leitores devem saber, de comum com os nossos só o fato de serem longe do centro. Buscando escapar do cada vez mais desordenado crescimento das massacrantes megalópoles, a família média estadunidense se mudou para bucólicos condomínios de casinhas com cerquinhas brancas longe de toda aquela complicação barulhenta das cidades. Só que também longe do convívio com outros tipos de pessoas, longe do comércio variado, longe de bibliotecas, teatros, cafés, restaurantes, botequins... enfim, já deu pra pegar o quadro.

Embora a liberação feminina ainda fosse incipiente (trabalhar fora pra substituir os homens nas linhas de montagens pra guerra foi fundamental pras mulheres se tornarem mais independentes), já havia mães que trabalhavam fora, ou simplesmente tinham mais o que fazer do que comprometer tudo em sua vida em favor do lar e das crianças. Empregadas e eletrodomésticos estavam disponíveis pra cuidar da casa e a televisão pra tomar conta da garotada. E com dinheiro e tempo sobrando, a preocupação das mães em terem mais lazer e atividades pra si mesmas aumentou.

Resultado: em 1960 os americanos já tinham cozinhado a mistura que faria a geração Barra da Tijuca famosa. Crianças mimadas, isoladas do mundo real, criadas meio largadas pelos pais, cheias de grana, cujas referências da vida vinham não de vivência, mas do que viam na tevê e no cinema, começavam a tomar conta da América, achando todas – como dito em “Clube da Luta” - que se tornariam estrelas do cinema ou do rock e, por isso, sem a menor disposição prum trabalho de verdade.



O estranho Charlie é tímido, mas se arrumasse uma turma de vizinhos que nem ele estava pronta mais uma galera pitboy. Trelane, o Senhor de Gothos, também não tem amigos e seu “programa de televisão” favorito é observar a Terra. Como Gothos está a novecentos anos-luz do nosso planeta, ele se veste e se comporta como um general do império onde o Sol nunca se põe, o inglês. Com direito a decoração e acessórios do final do século XVIII, início do XIX, incluindo um cravo. Sim, eu sei, se a série se passa no século XXIII, Trelane deveria estar vendo o nosso Renascimento e se fantasiar de italiano, mas a essa altura os roteiristas ainda não tinham se fixado numa época exata (a data estelar foi inventada justamente pra evitar dar uma data específica) e sugeriam que a história se passava entre duzentos e oitocentos anos à frente.

Aliás, com a corrida espacial a toda, ela era um assunto tão quente na época quanto computadores hoje, e os escritores nem se deram ao trabalho de explicar que Trelane veria a Terra no passado devido à relatividade e a velocidade da luz, supondo que seu público saberia. Mas Trelane não sabe. Como suas referências não provêm de experiência pessoal, o fogo na lareira não aquece e nem consome a lenha, a comida e a bebida não têm gosto e todo o ritual cortês de começo de revolução industrial não tem substância. Como descreve Spock, Trelane é conhecimento sem intelecto e poder sem sabedoria e por isso está preso numa infância interminável, apesar de sua aparência de meia idade.

Trelane se veste com roupas floreadas da Terra, é obcecado com a agressividade humana e é um alienígena virtualmente onipotente, mas não é o Q da Nova Geração. Pra começar, ele adora a agressividade da nossa espécie. Crianças mimadas isoladas, como psicopata de filme americano, querem apenas sentir alguma coisa. Qualquer coisa. É assim que se criam os pitboys. Basta ver como Trelane reage quando é enganado por Kirk. Ele condena o capitão à morte num julgamento picareta e fica feliz por ter sentido raiva. Kirk então se oferece para lhe proporcionar ainda mais emoção: se o Senhor de Gothos liberar sua Enterprise, ele se deixará ser caçado até a morte. Como prometido em “Tempo de Nudez”, Kirk faz de tudo para salvar sua nave. Ele nunca a abandonaria.

Segue-se a caçada humana, na tradição de “Zaroff, o Caçador de Vidas”, deixando bem claro que seriados dos anos 60 com problemas de tempo e orçamento não deviam mesmo tentar cenas de ação complexas. Pateticamente encenada, a perseguição pode até fazer Trelane se sentir mais vivo do que nunca, mas é completamente controlada por ele – nunca houve competição nela, na verdade. Kirk faz o que pode, mas quando o onipotente alienígena diz que “ganhou” o jogo, é demais pro nosso capitão, que com uns tapas na cara demonstra ao meninão que não há vitória se não houver mérito. O extraterrestre é derrotado moralmente e, sem saber o que fazer, tanto ele quanto o roteirista, são felizmente ambos resgatados pelos pais do Senhor de Gothos, que aparecem providencialmente, pedindo desculpas a Kirk e falando com seu garoto que se ele não souber tratar seus animais de estimação, não vai ter nenhum.



Enfim, “O Senhor de Gothos” é bastante similar a “O Estranho Charlie”. Nossos heróis são menos passivos aqui, por duas vezes derrotando – pelo menos moralmente – o onipotente da semana, mas novamente precisam da ajuda de um semideus ex machina pra se safarem. Paul Schneider, autor do sensacional “Equilíbrio de Terror” (ponha linque aqui) é melhor escritor do que D. C. Fontana e prefere um tom mais irônico neste episódio. Os diálogos também são melhores e, embora com menos tensão – principalmente sexual, já que no início da série o assunto estava mais à tona – Schneider sublinha melhor que, se não deixarmos de lado nossas fantasias pra viver nossas vidas de verdade, corremos o risco de envelhecer sempre tentando vivê-las através de filmes e velhos seriados de tevê... epa, peraí, deixa eu reformular isso...


Digno de nota:

Contagem de corpos: Estão todos vivos, Jim.
Avistamentos de tenente Leslie: é o dia de glória de Eddie Paskey. Com todo mundo no planeta abaixo ou na sala de transportes, é ele quem senta na cadeira de comando – embora tudo que vejamos seja ele levantando quando o capitão volta.
O sugador de sal de “O Sal da Terra” (ou pelo menos a roupa picareta do monstro) está em exibição na sala de troféus de Trelane e é desintegrado com um phaser.
A voz da mãe de Trelane é de Barbara Babcock, a deliciosa jovem balzaca loura de “Um Gosto de Armageddon”. Ela ainda apareceria duas vezes mais na série e seu corpo longilíneo, em contraste com a fartura curvilínea da mulherada espacial, a faz uma beleza mais contemporânea.

Em Nome de Deus



Jà tinha postado essa letra aqui há muito tempo, mas agora resolvi botar a versão do Sérgio Sampaio cantando. A letra é maravilhosa e uma das últimas obras-primas do capixaba genial. Quem gostar dele, logo abaixo tem ele tocando a lindíssima "Tem que Acontecer"

Eu nunca pensei que pudesse querer
Alguma mulher como quero você
Se o mago soubesse
Juntasse o meu nome em S
Ao seu nome em C
Nas cartas de todo tarot que houver
Em todo o I-Ching eu podia não crer
Mas tudo é tão verde em seus olhos
Não dá pra não ver

Mas tudo é tão verde em seus olhos
Você que se esconda, que eu vou procurar
Você nem se iluda, que eu vou lhe encontrar
Você pode ir e sair e sumir por aí
Que não vai se ocultar
Eu vejo seu rastro onde ninguém mais vê
Eu pego carona até na Challenger
E vou nos anéis de Saturno buscar por você

E vou nos anéis de Saturno
Sem ser João Batista, você batizou
Meu corpo na crista das ondas do mar
E aí me abriu feito ostra
E colheu minha pérola pra Yemanjá
Agora que estou à mercê de sua luz
Em nome de Deus, me carregue
Me pregue em sua cruz

Em nome de Deus, me carregue

outubro 27, 2009

Arquivo X (Segunda Versão)

Ainda ouço teus beijos percorrendo minha pele
Ainda vejo tuas juras de amor escaldadas
esticadas ao sol
ressecadas
como a pele de um extraterrestre
acidentado
Seu último pensamento para a família
A anos-luz de distância

Como se tivesses olhos nos dedos
Saboreio ainda o cheiro de teu perfume
Parasitado por meus poros
E lembro sim ainda lembro bem
Da tua lágrima

E eu uma Terra oca
Uma chama eterna brilhando
Escondida da vista de todos
Teorizada por charlatães e mistificadores
Desacreditada por todos

Segredo

E ela levantou e pegou a blusa, a calça
e o resto

E voltou pra se despedir
Já de novo um segredo cercado de roupas
Como as tantas outras
Com que cruzamos pelas ruas

Churrasco do Zé III

Os homens invejam Zé José


As mulheres desejam Zé José

Busto


Pensativo
A frase do dia: "Fui trabalhar no Tribuna Bis e ninguém me comeu" (sic)

Rito de Passagem

Na adolescência, quando tentava juntar alguns amigos pra jogar War, ou Telejogo e passava por aqueles que já estavam namorando ou que todo mundo já sabia que tinha perdido a virgindade, eu me sentia diminuído porque qual o interesse que alguém teria em jogar alguma coisa- simular uma vida real - depois que iniciasse sua vida sexual?

Depois de uma namorada que pulava ainda nua da cama pra jogar no computador, outra viciada em gamão e outra que num intervalo foi aprender a jogar Battle Chess, quinta meus amigos vão dar uma passada aqui pra jogar Wii.

Onde foi exatamente que perdemos a seriedade dos nossos pais?

Churrasco do Zé II







Por Que Carlos Alberto é Imprescindível Para o Vasco

Não porque faça jogadas geniais, mas porque não o deixam fazer. Muito de vez em quando ele faz um belo gol ou, mais provável, faz a jogada de outro, mas a maior utilidade dele tampouco é armar o time - ele prende a bola e várias vezes os laterais passam por ele sem receber e ficam parados, esperando (um dos motivos da aparente queda de produção do Ramon).

Não, a grande utilidade do Carlos Alberto é que nenhum adversário termina o jogo com onze. Desde que o sujeito aprendeu a não reclamar e deixou de ser expulso e levar amarelo quase sempre, ele apanha, e apanha muito. Não soltar a bola o deixa mais exposto aos marcadores e ele usa muito o corpo. O povo da segundona tem pânico dele, afinal, é o único jogador de nome e fisicamente no auge a estar disputando a série B. Os outros "famosos" são gente como Iranildo e Fumagalli.

Então, o que acontece? Os adversários do Vasco ficam apavorados que ele possa fazer alguma jogada genial. Olham os vetês dos jogos e veem que ele não fez nenhuma. E que ele apanhou muito. Correlacionam as duas coisas e começam a bater no cara. E tome amarelo, tome falta perto da área, tome vermelho.

Carlos Alberto chegou num ponto na carreira em que sua grande utilidade é ser um alvo móvel.


Churrasco do Zé I

Alô, Amigos!
A Bela e a Fera
Só a Bela (este é um blogue machista)
Pombas, devolve minha câmera!
Como sempre, continuo um sucesso entre as mulheres
Ana Sílvia posando de egípcia.
O gêmeo gente-boa da dupla Traz-Traz
Zé José fantasiado de Octávio Medeiros
Sílvio no meio do pensamento profundo
Cuidado! O HÍBRIDO vem aí e beberá todas as cachaças do Universo!

outubro 26, 2009

NFL

Restam três times invictos. Os Broncos parecem encaminhados pros playoffs, embora a tabela piore cada vez mais a seguir. Têm uma defesa firme e um ataque que protege bem a bola, mas não é brilhante. Times assim costumam parar no meio do mata-mata.

Os Colts ano passado tiveram um Peyton Manning contundido, o que foi uma pena, porque a defesa jogou pra burro. Principalmente no jogo de playoff em que foram eliminados. Roubaram duas bolas dos Chargers quando eles já estavam na zona quente, prontos pra pontuar, e seguraram os donos da casa até o final. O melhor quarterback do mundo, Manning, fez o que pôde, mas o time perdeu um jogo quando seu corredor, Joseph Addai, não conseguiu andar uma jarda e meia em duas tentativas. Com um jogo corrido medíocre, não deu pro Manning carregar os potros.

E os potros SÃO o Manning. Como já disse um jogador do time, off-the-record, eles deviam se chamar Indianapolis Peytons. Tom Brady é excelente quarterback e tal, mas tem um time que, se ele sair, continua de pé, como visto ano passado. Enquanto isso, lá em Indiana, há um ataque com montes de recebedores, uma linha ofensiva especializada em proteger o Manning e nem tanto em bloquear e abrir caminho para os corredores, que também são recrutados pela sua capacidade de correr E receber. A defesa é leve e ágil, especializada em proteger contra o passe. A ideia é que o ataque fará muitos pontos, graças ao Manning, o adversário vai ser obrigado a desistir da corrida e tentar o jogo aéreo por estar atrás, e daí que o sistema cover-2 recriado pelo Dungy e mantido pelo atual técnico vai evitar jogadas longas.

O problema é que cobrir o passe exige jogadores rápidos e relativamente pequenos e ágeis. A defesa dos Colts não é boa contra a corrida e contra times grandes, pesados e fortes. Daí que todo mundo tenta correr contra eles pra gastar o tempo e evitar várias posses de bola pra cada time - quanto menos Peyton Manning em campo, menos chance de ter que sair atrás de um placar dilatado.

Quem vem bem são os Saints, com o Drew Brees jogando tudo, uma defesa pesada e corredores que finalmente estão conseguindo correr. O favorito pra campeonato até agora.

Urca 2009




O Ataque das Violinistas Ruivas

outubro 25, 2009

Em Busca da Festa Perfeita



Depois do churrasco do Zé, emendamos no Circo pra ver o Júpiter Maçã, o primo do Dario, que eu não via desde a época em que ele era anos 70 e cantava nos Cascavelettes. Agora ele virou mezzo mod mezzo Jovem Guarda e manda ver o som que é a cara do pessoal da ECO. E do pessoal da noite todo.

Chamem os Tanques!

Porque caiu o helicóptero. O pessoal tem essa obsessão por forças armadas para combater o crime. É mais pra ter uma vingança por causa da frustração que sentem com tiroteios, com ônibus queimados, com os dias em que a cidade para por ordem dos traficantes... que se foda a sanidade. Lembra o policial que matou o bandido E a refém porque deu uma rajada de metralhadora na cabeça do marginal que desceu do ônibus 174... e foi APLAUDIDO?

A ideia de que a políca é mal armada é um erro. Policiais têm FALs o bastante pra encarar a marginália - ou deveriam ter, já que toda patrulhinha que passa pela gente tem eles exibindo seus AR-15 ou o FAL suíço em pessoa. O grande problema da polícia é a corrupção e a falta de comprometimento da sociedade com a erradicação mesmo do crime. Como em APOCALYPSE NOW, quando o coronel Kurtz cria sua própria milícia e imediatamente assassina alguns altos oficiais do regime aliado vietnamita. É que Kurtz achava que os americanos não estavam levando a guerra a sério. Os altos oficiais estavam vendidos aos vietcongues, mas ninguém fazia nada por causa da posição deles. Já no Rio os cidadãos querem o fim do tráfico, mas não estão a fim de aumentos nos impostos pra aumentar a verba dos policiais, não querem reformular as polícias, não querem sair às ruas ou se organizar pra exigir o impedimento de parlamentares ligados ao crime organizado ou a demissão de corruptos, não querem parar de consumir entorpecentes, não querem ajudar a melhorar a distribuição de renda ou a educação pública...

E, enquanto isso, sonham com o exército moralizando tudo. Nem se tocam que, se a bandidada está usando armas de uso exclusivo das forças armadas, elas só podem ter vindo de UM lugar. E acreditam que um bando de conscritos sem um níquel, com 18 anos e armados de FAL vão ser imunes à corrupção - do dinheiro ou mesmo do poder. Vejam o que aconteceu com Raul Capitão.

Coração Tranquilo - Walter Franco



O espetacular Walter Franco num programa de tevê que não deu certo do Nelson Motta, o "Mocidade Independente", do final dos anos 70. O show não funcionou por um motivo muito simples, que todo mundo avisou pro Nelsinho: aos sábados a noite a juventude, que era o público-alvo simplesmente não estava em casa pra assistir, numa época sem reprises, videocassetes e afins.

A primeira vez em que ouvi esta música, depois de comprar num sebo o vinil do "Respire Fundo" (e também o "Vela Aberta"), em 2001, eu pensei que teria sido ótima pra dar pra Vânia ouvir. E ela teria adorado. Eu me lembro de quando eu contei pra ela a letra de "you gotta be", da Des'ree (você tem que ser malvado, você tem que ser bravo, você tem que ser mais sábio).

A versão do disco tem uma grande vantagem, uma sanfoninha que deixa mais explícito ser a canção um forró, mas esta apresentação ao vivo tem mais garra - o que talvez contradiga a mansidão pregada pela letra. Mas quem se importa? Walter Franco é bom pra caralho.

outubro 10, 2009

Oração (Terceira Versão - a pedidos)

Perdoe-me, Pai, pois cometi atos... questionáveis... muito amor prometi a mulheres apenas para tê-las a meu lado. Muitas levei a mostras de filmes... de livros... restaurantes caros e lojas caras e as afoguei num mar de citações, pois esqueci que mesmo sabendo a língua dos Anjos, sem amor eu nada seria. Mesmo em presença delas, desejei outras e na realidade nenhuma desejava, pois da minha vida em meio à jornada, achei-me em selva tenebrosa, tendo perdido a verdadeira estrada. Escolhi os líderes errados e segui Verdades tão confusas quanto eu. Odiei os que me queriam bem por serem felizes e não me fazerem feliz e chamei de invejosos àqueles que não se curvaram aos meus caprichos. Fomentei o desprezo por todos os atos de piedade e compreensão para que eu não tivesse que me apiedar ou compreender os outros. Eu pequei, Pai, reneguei tudo em que acreditava - por dinheiro, poder e sexo, eu menti, enganei e trapaceei - e, em minha mesquinhez chamei meus pecados de maturidade... e êxito. Perdoa, Pai, este teu filho tão cruel, egoísta e covarde que nem mesmo perder-se conseguiu. Senhor, abençoa os cruéis e os egoístas, pois não conseguimos Te perceber e Te buscamos na imagem e semelhança de tantos corpos de barro tentanto enxergar o fantasma na máquina, tentando ver no outro a divindade que nós já perdemos.

Perdoa-me, Pai, por, com tudo que me deste, não Te agradar nem desagradar. Perdoa-me por aceitar que outros se penitenciassem por mim. Que outras o fizessem... Perdoa-me por nunca ter-lhes dito o quanto as amava... o quanto...

Um Celular com Câmera na Feijoada do Festival de Cinema 2009 no Sofitel




Zelig, Ana Sílvia e Bianca

Amor Elementar

Conte-me uma chuva
Macia, fina
Um pouco melancólica
E envolvente

Beije-me uma tempestade
Um temporal de verão
O sabor da grama molhada
O cheiro do ozônio
Os raios estourando
O ar abundando de água

Até que a terra encharcada
Seja uma lama indistinta de nossos pés
Uma úmida pasta de pó, planeta
E restos de mortos enterrados

E nós o fogo

Vizinhança V



A bela casa laranja por enquanto está segura, abriga a casa noturna Bukowski, que acaba de abrir filial na Mena Barreto. Na segunda metade dos anos 90, em sua localização original, acho que na Teresa Guimarães, foi um dos primeiros lugares a bancar nostalgia dos anos 80, tocando Smiths, Cure, Legião, Barão, essas coisas. Em homenagem ao bêbado genial, uma de suas poesias que eu mais gosto, seguida pela minha rápida tradução. (Cheque também o belíssimo poema de amor Yes Yes, já postado aqui duas vezes.)

SPLASH

The illusion is that you are simply
reading this poem.
the reality is that this is
more than a
poem.
this is a beggar's knife.
this is a tulip.
this is a soldier marching
through Madrid.
this is you on your
death bed.
this is Li Po laughing
underground.
this is not a god-damned
poem.
this is a horse asleep.
a butterfly in
your brain.
this is the devil's
circus.
you are not reading this
on a page.
the page is reading
you.
feel it?
it's like a cobra. it's a hungry eagle circling the room.

this is not a poem. poems are dull,
they make you sleep.

these words force you
to a new
madness.

you have been blessed, you have been pushed into a
blinding area of
light.

the elephant dreams
with you
now.
the curve of space
bends and
laughs.

you can die now.
you can die now as
people were meant to
die:
great,
victorious,
hearing the music,
being the music,
roaring,
roaring,
roaring.

A ilusão é de que você está simplesmente
lendo este poema
a realidade é que isto é
mais que um
poema.
isto é o canivete de um mendigo
isto é uma tulipa
isto é um soldado marchando
através de Madrid.
isto é você em seu próprio
leito de morte
isto é Li Po rindo
lá embaixo
isto não é a porra de um
poema.
isto é um cavalo adormecido
uma borboleta em
sua mente
isto é o circo do
demônio
você não está lendo isto
numa folha
a folha está lendo
você
pode sentir?
é como uma serpente. é uma águia esfomeada rodando pela sala

isto não é um poema. poemas são chatos
fazem você dormir

estas palavras forçam você
a uma nova
loucura

você foi abençoado, você foi atirado em uma
cegante área de
luz

o elefante sonha
com você
agora
a curva do espaço
se dobra e
gargalha

você pode morrer agora
você pode morrer agora como
todas as pessoas deveriam
morrer:
grandes,
vitoriosas,
escutando a música,
sendo a música,
retumbando,
retumbando,
retumbando.

Vizinhança IV



Uma casa típica botafoguense (e carioca) de fins do século XIX, início do XX. Botafogo, construído em cima de vários rios, sempre foi propensa a inundações durante chuvas, por isto as moradias costumavam ter sua entrada elevada. Também porque o principal meio de transporte era o cavalo. Suas fezes, misturadas com a chuva e a terra, ou ressecadas e espalhadas como poeira para também virarem lama quando chovia, eram presenças constantes nas cidades da época, que, calçadas com paralelepípedos e macadame, nem ao menos absorviam organicamente as coisas.

Incidentalmente, foi a tentativa de se livrar desta lama porca e malcheirosa, onipresente e dominante na urbe, que levou os urbanistas a abraçarem tão fervorosamente o automóvel quando ele surgiu e projetarem a cidade do futuro com amplas e largas ruas para dar vazão ao carro particular, o remédio tão aguardado para os detritos equinos. Foi também a sujeira que levou à ideia da cidade-jardim, amplos conjuntos habitacionais semiautônomos e postados no meio de amplos espaços. Típicas desta concepção são a Barra da Tijuca e Brasília. Os amplos espaços tornaram-se desertos e o desestímulo ao pedestre esvaziou as calçadas desses lugares, tornando-os áridos e pouco afeitos à presença humana.

Como diz Jane Jacobs, no monumental "Vida e Morte das Grandes Cidades", os criadores da cidade-jardim simplesmente odiavam tudo que fazia uma cidade: a concentração de serviços, postos de empregos, atividades, opções de lazer, gente a ser conhecida etc. etc. Somente nos anos 60 (lá fora) e 80 (por aqui) é que voltou-se a valorizar a comunidade de prédios pequenos, com comércio no térreo, todos próximos um do outro, dando vida às calçadas e aos bairros.

Rostos de Domingo


Saio pra passear no domingo e encontro o Serginho França, em sua personalidade de editor, tendo que encarar o longo caminho até a Bienal do Livro...


No domingo seguinte, vou fotografar a vizinhança e encontro outra editora, a Mônica Maia, voltando das compras no mercadinho da Álvaro Ramos e furiosa contra a campanha pela estação de metrô - "se abrir uma estação de metrô aqui, vai vir ponto de ônibus, ponto de táxi, camelô e acabou-se o que era uma bela rua residencial"...


Dez minutos depois encontro a autêntica dançarina dinamarquesa Lila Carl voltando de seu passeio na Urca.


Vou caminhar no Aterro e encontro a Lu Neiva, nossa eterna capitã, com a filha, entrando na Feira de Gastronomia no MAM... (foto com celular)


... onde tem alguns formandos tirando foto, tão felizes que até posam pra desconhecidos como eu (foto com celular).

outubro 06, 2009

Oração (Segunda Versão)

Perdoe-me, Pai, pois eu cometi atos... questionáveis... muito amor prometi a mulheres apenas para tê-las a meu lado. Muitas levei a mostras de filmes... de livros... restaurantes caros e lojas caras e as afoguei num mar de citações, pois esqueci que mesmo sabendo a língua dos Anjos, sem amor eu nada seria. Mesmo em presença delas, desejei outras e na realidade nenhuma desejava, pois da minha vida em meio à jornada, achei-me em selva tenebrosa, tendo perdido a verdadeira estrada. Escolhi os líderes errados e segui Verdades tão confusas quanto eu. Odiei os que me queriam bem por serem felizes e não me fazerem feliz e chamei de invejosos àqueles que não se curvaram aos meus caprichos. Fomentei o desprezo por todos os atos de piedade e compreensão para que eu não tivesse que me apiedar ou compreender os outros. Eu pequei, Pai, reneguei tudo em que acreditava - por dinheiro, poder e sexo, eu menti, enganei e trapaceei - e, em minha mesquinhez chamei meus pecados de maturidade... e êxito. Perdoa, Pai, este teu filho tão cruel, egoísta e covarde que nem mesmo perder-se conseguiu. Perdoa-me por, com tudo que me deste, não Te agradar nem desagradar. Perdoa-me por aceitar que outros se penitenciassem por mim. Que outras o fizessem... Perdoa-me por nunca ter-lhes dito o quanto as amava... o quanto...

Senhor, abençoa os mesquinhos e egoístas, pois não conseguimos Te perceber e Te buscamos na imagem e semelhança de tantos corpos de barro tentanto enxergar o fantasma na máquina, tentando ver no outro a divindade que nós já perdemos.

Vizinhança III





O comércio de bairro. No atual ritmo, nossos netos não verão essas coisas.

Sérgio Sampaio

E, falando em poemas de amor terminado...



Não fui eu nem Deus
Não foi você nem foi ninguém
Tudo o que se ganha nessa vida
É pra perder
Tem que acontecer, tem que ser assim
Nada permanece inalterado até o fim
Se ninguém tem culpa
Não se tem condenação
Se o que ficou do grande amor
É solidão
Se um vai perder
Outro vai ganhar
É assim que eu vejo a vida
E ninguém vai mudar

Eu daria tudo
Pra não ver você cansada (zangada)
Pra não ver você calada (cansada)
Pra não ver você chateada
Cara de desesperada
Mas não posso fazer nada
Não sou Deus nem sou Senhor

Eu daria tudo
Pra não ver você chumbada
Pra não ver você baleada
Pra não ver você arriada
A mulher abandonada
Mas não posso fazer nada
Eu sou (sou só) um compositor popular

Loja de Doces em Copacabana









Decididamente as crianças de hoje não são como as da minha época.
Certo, eu sei sobre a sexualidade infantil, mas, raios, cadê o período de latência?