fevereiro 18, 2010

Morte Pela Água

T. S. Eliot

Flebas o Fenício, morto há uma quinzena
Esqueceu o grito das gaivotas e as ondas do alto-mar
E os lucros e os prejuízos
Uma corrente submarina
Picou seus ossos em murmúrios

Enquanto ele subia e descia
Vislumbrou cenas de sua maturidade e juventude
Ao cair no redemoinho

Gentio ou Judeu
Ó tu que o leme giras e miras a estibordo
Considera Flebas, que foi um dia tão alto e belo como tu

Deus Todo-Piedoso

Yehuda Amichai


Deus Todo-Piedoso, a oração aos mortos
Se Deus não fosse todo piedade
Haveria piedade no mundo
E não somente nele
Eu, que arranquei flores das montanhas
E olhei para os vales abaixo
Eu, que carreguei cadáveres morro abaixo,
Posso dizer que o mundo não tem piedade
Eu, que fui o Rei do Sal na praia,
Que em minha janela permaneci sem uma decisão,
Que contou os passos dos anjos,
Cujo coração carregou toneladas de angústia
Em horríveis disputas

Eu, que uso apenas uma pequena fração
Das palavras de um dicionário

Eu, eu devo decifrar charadas
Que não queria decifrar,
Sei que se Deus não fosse Todo-Piedoso
Haveria piedade no mundo
E não somente nele.

Por Que os Kamikazes Usavam Capacetes?


Volta e meia alguém tentando um dito espirituoso solta essa. O que só mostra que não tem a menor ideia do assunto. Kamikazes eram armas valiosíssimas, não só por explodirem navios mais certeiramente do que bombas atiradas de aviões, como pelo fator de intimidação: sujeitos que não ligam a mínima se vivem ou morrem são aterradores para os povos ocidentais da sociedade de consumo. Viver cercado de bens materiais torna a perspectiva da morte muito mais aterradora do que para quem vive de comida e espiritualidade.

Mas deixemos a digressão e voltemos ao assunto: sendo kamikazes tão valiosos, os japas não iriam querer perdê-los por causa do shrapnel de uma flak. Para chegarem até seus alvos, os ventos-divinos tinham que atravessar coberturas de caças e artilharia antiaérea. Estilhaços e balas enchiam os céus e um que pegasse na cabeça era um piloto suicida E um avião (1) a menos. O fato de que o moleque na cabina não voltaria se desse tudo certo não queria dizer que ele era dispensável, muito pelo contrário. Os melhores ases nipônicos faziam de tudo para proteger aqueles garotos que tinham feito um juramento de honra. Afinal de contas, eram aqueles mísseis humanos que eram a arma.

O mais engraçado é que esse raciocínio "por que os kamikazes usavam capacete" demonstra justamente uma falta de respeito pela vida que os atemorizados americanos atribuíam aos seus adversários desesperados para evitar uma derrota. Aquela centelha dentro da cabine era valiosíssima e tinha que ser protegida a qualquer custo. Honrado e determinado, era um exemplo para seu país e incutia o horror nos corações ianques.

Uma ex-namorada teve certa vez um caso com um sujeito que tinha sido traficante, mas tinha largado tudo pra virar vendedor. Contava ela que certa vez elogiou-o por sua decisão de deixar aquela atividade perigosa, já que o dinheiro era farto, mas a vida, curta. E ele explicou para ela que, sim, era verdade, não se vivia muito no ramo, mas o resto da sua família saía da merda. Segundo ele, aquele clichê de filme policial americano do bandidão que não quer que o irmão mais novo entre pro ramo não é invenção de Hollywood.

E tive uma prima que confirmou a história: ela deu aula numa escola na Cidade de Deus e alguns marginais ficavam no muro do colégio com as armas em punho protegendo os parentes dos chefões e deles mesmos. Volta e meia um dos foras-da-lei aparecia trazendo um moleque que tinha sido pego cabulando aula e recomendando aos professores que ficassem de olho nele.

Ou seja, pra quem não tem nada não é tão impensável assim dar a vida por uma causa, ainda mais quando a causa é sua religião, seu país, ou mesmo, no mínimo, sua família. O materialismo da sociedade de consumo nos fez tão egoístas que, afora os filhos, temos dificuldade em pensar em dar a vida até mesmo por um parente. E heroicos rapazes tentando virar desesperadamente a maré da guerra com o sacrifício supremo viram objetos descartáveis pra jogar fora da maneira que der, uns monstros bobões indignos até de usar um reles capacete.

Que eles usariam, no mínimo, porque fazia parte do uniforme, e eles tinham direito à toda parafernália - últimas refeições, drinques, homenagens etc. etc., tudo que era homenagem antes de decolar.

(1) Normalmente o piloto é sempre muito mais valioso do que um avião. São precisos anos para se formar um deles, mais tempo para que ele ganhe experiência em combate - e sorte, pra não morrer antes. Nâo é qualquer um que pode guiar um avião e menos ainda os que conseguem ser grandes atiradores (hoje não tão necessário, mas coordenar tudo num jato moderno também é foda). Pra se ter uma ideia, 90% dos pilotos que participaram da Batalha da Inglaterra, o mais importante conflito aéreo da história, nunca derrubou um avião (ou acertou, infelizmente, estou sem a cifra aqui). Mas os EUA, com a guerra submarina e a estratégia de "pular carniça" nos atois, isolou tão bem o Japão que invalidou todas as suas conquistas no início da II Guerra, que visavam justamente assegurar o fornecimento de matéria-prima. A terra do sol nascente estava tão desesperada no final do confronto que aeroplanos e seus condutores eram todos igualmente valiosos - e ambos, muito!

Teoria da Conspiração


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fevereiro 15, 2010

Eu Não Sei Se Você Está Vivo Ou Morto

Anna Akhmatova, poetisa russa da época da Revolução e depois perseguida por Stalin por ser "burguesa". Seu primeiro marido foi executado e seu filho passou a maior parte da infância nos gulags. Obviamente eu não sei russo (1), portanto a versão aqui abaixo é de uma livre tradução minha em cima de uma tradução para o inglês, ou seja, deve ter sobrado muito pouco do poema original. De qualquer forma, a versão anglófona está aí também:

Eu não sei se você está vivo ou morto
Será que você ainda é procurado sobre a terra
ou apenas quando o crepúsculo se esvai
serenamente lamentado em meus pensamentos?

Tudo é para você: a oração diária
O desejo nas noites insones
O alvo floco dos meus versos
O fogo azul de meus olhos

Ninguém foi mais estimado
Ninguém me torturou mais
Nem mesmo aquele que me traiu para meus torturadores
Nem mesmo aquele que me acariciou e esqueceu



I don't know if you're alive or dead.
Can you on earth be sought,
Or only when the sunsets fade
Be mourned serenely in my thought?

All is for you: the daily prayer,
The sleepless heat at night,
And of my verses, the white
Flock, and of my eyes, the blue fire.

No-one was more cherished, no-one tortured
Me more, not
Even the one who betrayed me to torture,
Not even the one who caressed me and forgot.


(1) Quando eu li pela primeira vez Dostoievski, OS IRMÃOS KARAMAZOV, vi que a tradução era da Rachel de Queiroz e fiquei estupefato, "caralho! A Rachel de Queiroz sabia até russo". Somente quando há alguns anos lançaram a primeira tradução do Velho Dosta direto de sua língua pátria é que soube que a nossa primeira acadêmica havia trabalhado em cima da tradução para o francês - segunda língua russa no século XIX.

Plástico de Carro

You gotta be bad You gotta be bold Yout gotta be wiser
Oh Baby be a simple, be a simple man
Oh be something you love and understand
Baby be a simple kind of man

(Simple Man, Lynyrd Skynyrd)

Plástico de Carro

A Argentina é a Blanche Dubois dos países.

O Mais Belo Suicídio


Em 1o. de maio de 1947, numa crise de depressão, após romper com seu noivo, Evelyn McHale subiu ao deque de observação do Empire State Building, deixou uma nota dizendo que não daria uma boa esposa a ninguém e de um salto de 86 andares, interrompido apenas por uma limusine das Nações Unidas, que, apiedada de alguém tão jovem desistir de tudo o que ainda tinha pela frente, abraçou-a cuidadosamente, deixando-a numa pose em que mais parecia estar descansando. Apenas alguns detalhes, como a meia descida da perna esquerda dão a verdadeira pista da tragédia.

O estudante de fotografia Robert Wiles foi ver o que estava causando toda aquela confusão ali perto e imortalizou este momento de macabra poesia.

fevereiro 08, 2010

O Melhor Efeito Especial de Todos os Tempos

Acabei de rever Sinbad e a Princesa. Não é em qualquer locadora que você vai achar, mas é um barato. Houve uma época em que a TV Rio e depois a Bandeirantes fizeram populares por um breve momento os filmes de Mil e Uma Noites. Por um breve momento apenas porque os estúdios não estavam dispostos a bancar grandes orçamentos e os efeitos especiais eram complicados. Não havendo computadores, monstros e seres míticos em geral tinham que ser feitas do mesmo modo que King Kong em 1933: construía-se uma criatura em miniatura, que era animada quadro a quadro e depois montada cuidadosamente dentro das cenas com gente de verdade.

Com pouca grana pra investir, normalmente o visual não ficava grande coisa. A miniatura era sobreposta ao cenário com atores através da tela verde, o que implicava em mais um processo fotográfico que diminuía a qualidade da imagem. Não podia haver poeira no ambiente ou a cena iria aparecer manchada (repare como a Enterprise está sempre borrada, riscada e com sujeira aparecendo na série original). Não havia monitores de vídeo, então o diretor de efeitos especiais tinha que fazer sabe Deus lá como os cálculos pras criaturas de borracha e as pessoas parecerem estar dentro da mesma ação. E, quando se fazia a animação quadro a quadro, a iluminação do estúdio de animação tinha que bater com o que já fora filmado, muitas vezes ao ar livre, com sombras caindo da mesma forma que os heróis.

Pouca gente tinha condição de fazer isso tudo e ficar bom. Willis O'Brien, que fez King Kong e Mundo Perdido, era um desses. Os dois longa, principalmente o sonoro, do macacão, fizeram um tremendo sucesso. Tanto que um moleque de treze anos viu King Kong e, embasbacado com o gorilão parecendo vivo, descobriu que era aquilo que ele queria fazer na vida. O garoto era Ray Harrihausen.

Ray Harrihausen trabalhou com O'Brien em Mighty Joe Young, animou discos voadores em Earth vs. Flying Saucers, o monstrão do primeiro filme de dinossauro acordando no mundo moderno (antes de Godzilla), o Beast of 20.000 Fathoms, mas no final dos anos 50 arrumou um produtor que resolveu bancar suas experiências com efeitos especiais e começou a criar projetos com narrativas mitológicas que pouco eram além de uma desculpa e uma ligação para as cenas de criaturas saídas diretamente dos pesadelos das crianças enfrentando heróis e elas mesmas.

Essas cenas de lutas de monstros e atores eram criadas, produzidas e dirigidas por Harrihausen. Ele às vezes levava meses montando suas miniaturas com as pessoas até a luz bater de maneira que lhe agradasse. Além do trabalho insano dele, os longas tinham orçamentos pouco maiores do que boas séries de tevê, com atores desconhecidos (não necessariamente ruins, vide Torin Thatcher) e poucas cenas com palácios ou interiores luxuosos, mas muitas praias e vales rochosos.

Tendo que fazer tudo isso à mão, é absolutamente inacreditável que Harrihausen tenha posto de pé, logo no primeiro filme dessa "série", a cena abaixo. Sabe-se lá como ele consegue animar o esqueleto e montá-lo em quadro de forma que Sinbad e ele cruzem espadas (epa!) e ele golpeie diversas vezes o escudo do marinheiro. Sem falar em outra das marcas registradas do Harrihausen, as criaturas com personalidade. O esqueleto não apenas se mexe, ele realmente está vivo, tem "peso" (o que mesmo as moderníssimas animações por computador poucas vezes conseguem fazer convincentemente), se balança para manter o equilíbrio, em suma, é fantástico como se pode fazer tudo isso apenas no olho. Mesmo as composições da luta são boas - Sinbad e seu adversário ocupam o espaço em cena agradavelmente à visão enquanto trocam golpes com fúria e violência, tocando-se o tempo inteiro! Eu e Zé José já muitas vezes discutimos como o velho Ray obtinha tanta perfeição nessas cenas de lutas com esqueletos (e todas as outras, em geral: os caubóis porrando - literalmente, trocando socos com um pterodátilo, por exemplo - dinossauros, uma estátua de seis braços enfrentando Sinbad, Talos, o guardião de bronze e muitos mais). Na minha opinião era magia negra. Na do Zé, ele viajou ao futuro e roubou um McIntosh.




No entanto, não satisfeito com essa luta de pouco mais de dois minutos que deve ter gerado uns dois meses de trabalho, o psicopata do Harrihausen resolveu subir as apostas: por que não um EXÉRCITO de esqueletos contra um grupo de decididos gregos? (Hmmmm...) E em "Jasão e os Argonautas", o celerado criador de efeitos especiais provavelmente concatena sua obra-prima. E, levando-se em conta que as animações por computador de hoje em dia são na verdade apenas desenhos (feitos com pixels, é verdade, mas desenhos ainda assim), poder-se-ia considerar talvez esta luta ATÉ HOJE o MELHOR EFEITO ESPECIAL DA HISTÓRIA DO CINEMA, por toda sua perfeição técnica e beleza.


No final dos anos 70, após o estrondoso sucesso de "Guerra nas Estrelas" ter convencido os estúdios de que pessoas de todas as idades lotariam cinemas só pra ver efeitos especiais (vide "Avatar"), Harrihausen finalmente ganhou um tremendo orçamento, atores de verdade (Laurence Olivier, o melhor ator do século! Maggie Smith! Burgess Meredith! E a isca de público Ursula Andress) e fez "Fúria de Titãs". O longa foi bem nas bilheterias, mas não as estourou como o épico de Lucas. Finalmente dirigindo TODO o projeto e não apenas as cenas com animações, Harrihausen mostrou-se um pouco antiquado para a época e, talvez por vício, o filme, apesar de toda a grana enfiada, tem um ar de produção barata. Mas de qualquer forma, os monstros de Harrihausen continuam um barato (sacou? Barata, barato) e o velho ilusionista chega mesmo a se dar ao luxo de criar um personagem que podia ser feito por um ator com uma roupa de borracha todo em efeito especial, o vilão da história, Calibos (helenização do Caliban d'A Tempestade).

Fúria de Titãs foi refilmado e vai ser lançado este ano. Por que reciclar hoje em dia a historinha de Perseu e o título do filme de Harrihausen, que pouco mais eram do que veículos para o gênio do animador ganhar as telas é a grande questão. Quando qualquer um pode em casa com um Maya desses da vida fazer um monstro animado encher alguém de porrada, o que acontece mesmo nos seriados de tevê mais pobres, qual o sentido de se maravilhar com as encantadas criaturas mitológicas que nas mãos de Harrihausen passavam de meio metro a dez, vinte metros de altura?


Campeonato Carioca

O Cariocão anda tão estranho que tem um Louco que é bom de cabeça (Serginho)

fevereiro 02, 2010

Fé?

Há uma lâmpada acesa
Mas não há luz
Só o calor
Capaz de queimar
Quem encostar

Você Confiaria Seu Orçamento a Ela?

Cheerleader e analista financeira. Repare no livro favorito dela.


Leia mais sobre a moça (e veja mais fotos dela) em http://capitals.nhl.com/club/page.htm?bcid=29806

fevereiro 01, 2010

A Fronteira Final - A Primeira Temporada de Star Trek a Série Clássica



A Coleção

* pelo blogueiro convidado Antônio Rogério da Silva


Anteriormente: O Punhal Imaginário


O universo utópico imaginado por Wesley Eugene Roddenberry em Jornada nas Estrelas com a ajuda do produtor Gene L. Coon e de seus diversos roteiristas ainda está muito longe de ser alcançado. O sonho de pensadores cosmopolitas que desde os antigos estóicos defende o direito de todo ser humano ser considerado cidadão do mundo parece tão distante quanto o século XXIII. Quando se pensa que a humanidade avançou dois passos nesta direção, logo se percebe que voltamos um passo atrás. A dura realidade mostra que barreiras econômicas e políticas impedem que países de um mesmo continente dissipem suas fronteiras regionais, tornando a união em torno de uma federação planetária uma fantasia quimérica de autores de ficção científica. Enquanto isso, todo o espaço sideral permanece por ser investigado e conhecido, com os terráqueos imersos em sua luta mesquinha pelos recursos naturais mal distribuídos na superfície do planeta.

Entretanto, a esperança dos iluministas pela busca de esclarecimento segue acesa, nas palavras de Carl Sagan, como uma vela em um mundo assombrado por demônios. Nesse contexto, Jornada nas Estrelas cumpre seu papel de despertar nas mentes mais criativas a vontade de superar os preconceitos e superstições, em favor de um melhor entendimento de tudo que nos cerca, embora isto seja uma possibilidade muito remota no atual cenário internacional.

Você viu o Cabeção por aí?


Antes de ser lançada na TV, Jornada... teve um episódio piloto – A Gaiola - que apresentava as ideias iniciais de Roddenberry para a série que, além de diversão, estimulava seus espectadores a pensarem por si mesmos. A Gaiola foi totalmente rejeitado pela rede CBS, mas a concorrente NBC pediu a realização de uma segunda história – Onde Nenhum Homem Jamais Esteve foi ao ar em setembro de 1966 -, mesmo considerando o episódio inaugural “muito cerebral” e com pouca ação. Incomodava aos donos das emissoras a presença ativa de uma mulher participando do controle da USS Enterprise e de um extraterrestre com aparência demoníaca. Roddenberry cedeu em alguns pontos – substituiu a personagem da Número Um (Majel Barrett) pela oficial de comunicações, tenente Uruha (Nichelle Nichols) -, mas manteve-se firme na permanência do Sr. Spock (Leonard Nimoy). Além disso, deu um jeito de exibir suas ideias iniciais, inserindo a maioria das cenas do piloto em um episódio da série original.

A Coleção traz, portanto, em duas partes, a história desastrosa da primeira aventura vivida pela tripulação pioneira da Enterprise. Na época, 13 anos antes da nova turma assumir os comandos, seu antigo capitão, o melancólico Christopher Pike (Jeffrey Hunter), é quem dava as cartas por lá, escudado por um Spock mais intrépido que se permitia deixar aflorar seu lado humano, de vez em quando. A Primeira Oficial também sabia tomar suas decisões por si mesma com pulso firme. No seu estilo de matrona, conseguia colocar no devido lugar as mulheres que tentassem se engraçar por seu capitão. No geral, o interior monocromático da nave tinha o cinza metálico predominante, em contraste ao colorido das luzes e portas da Enterprise recauchutada. Porém, agora inválido, depois de um grave acidente que o deixou desfigurado e preso a uma cadeira de rodas computadorizada, Christopher Pike recebe a ajuda humanitária de Spock que o rapta da Base Estelar 11, onde passara a residir, e assume, amotinado, o controle da Enterprise, para levá-lo a Talos IV, único planeta de acesso proibido na Federação.

Ethan, não podemos continuar nessa busca


Em Talos IV, o capitão Pike fora apriosionado, na primeira vez, pela espécie talosiana, remanescente de uma civilização que se destruíra em uma guerra de escala planetária. Obrigados a sobreviverem no subterrâneo, os talosianos desenvolveram ao extremo suas habilidades mentais e telepáticas, mas encontram-se em declínio, à beira da extinção – boatos contam que alguns mutantes dos cabeçudos talosianos conseguiram escapar e posar para fotos na capa de um disco de famosa banda de rock brasileiro. Os poucos que continuaram habitando Talos IV precisavam ao menos de alguma espécie de companhia que aceitasse suprir suas necessidades por absorver sentimentos bons de prazer. Com o intuito de atrair Pike, mantiveram artificialmente a beleza da única humana sob sua guarda. Vina (Susan Olivier) sobrevivera à queda da nave da primeira expedição enviada àquele planeta. Interessados em ampliarem seus exemplares de humanos em cativeiro, os talosianos tentam pela segunda vez convencer capitão Pike a se submeter à proposta para satisfazerem quaisquer desejos de sua imaginação. Graças a uma capacidade extraordinária de induzir realidade virtual às mentes humanas, os talosianos podem fazer com que Pike e Vina deformados se sintam eternamente jovens no paraíso que imaginarem, como se vivessem o retorno de Adão e Eva ao Éden. Dessa vez, Pike não tem argumentos para recusar a oferta talosiana.
Assim, Spock consegue escapar à condenação da corte marcial, pois, em respeito à reputação histórica do capitão Pike, o conselho da Federação resolve acatar sua decisão e livrar o vulcano da pena capital por entrar em órbita de Talos IV. Capitão Kirk (William Shatner) pode então retomar o comando de sua nave, não sem antes repreender seu imediato por ter agido de maneira demasiada humana.

Um repertório de temas é exibido em A Coleção, que viria a ser considerado o modelo canônico ou o formato padrão para a série original. A luta contra a opressão, coragem para enfrentar o desconhecido, realidade virtual, controle da mente, a autonomia dos indivíduos e o convívio em sociedade, mesmo que a bordo de um veículo militar com suas hierarquias são anunciados. A discussão de questões filosóficas como o livre arbítrio e a responsabilidade pelos seus próprios atos também estão lá.

Para uma geração com a pele marcada como gado, que disputa acirradamente um lugar em programas televisivos que violam sua privacidade, as recusas iniciais dos personagens Pike e Vina podem parecer estranhas e antiquadas. Mas é essa estranheza que faz saltar com nitidez o diferencial da série original de Jornada nas Estrelas em relação à mediocridade da televisão atual em alta definição.

Anti-doping

Lá nos EUA pegaram Mark MgGwire. O cara parou de jogar acho que no final dos anos 90, início do século XXI, mas fizeram uma investigação pra moralizar o beisebol e, mesmo com ele nunca tendo sido pego no anti-doping, acabou cercado e tendo que confessar que usou esteroides. Já virou até piada lá na gringolândia quando um atleta veterano subitamente começa a aparecer com números impressionantes após um certo período de decadência. Normalmente não é um novo amor ou porque ele encontrou nova motivação.

Aqui no Brasil eu realmente gostaria de saber como funcionam os exames anti-doping. Na série B ouvi dizer que o Vasco teve que pagar pelos kits em seus jogos. Sujeitos com quase quarenta anos subitamente voltam a jogar bem, atletas que não gostam de treinar aparecem com mais massa muscular e jogadores já velhos e que ficaram parados dois anos atuam como se tivessem ficado de fora duas semanas. Até quando se volta de uma contusão longa o vivente sente falta de ritmo de jogo, o que dirá dois anos?

E o Robinho? Será que no Brasil ele vai começar a voar baixo?