maio 29, 2012

Ó Susana, Não Chores por Mim!


Com Neil Young (que fez talvez o melhor show que já vi).

maio 24, 2012

Plástico de Carro

É o vazio em torno de nós que nos dá forma.

Feirinha da Praça XV

Uma homenagem de João David a Hal Foster, um dos meus 20 gênios dos quadrinhos. Aqui João David reproduz um famoso painel de PRÍNCIPE VALENTE, o herói volta em visita ao lar de seu pai nos pântanos, quando ainda no exílio, antes de retornar a seu trono em Thule, mas quando o fino gelo de um lago quebra ele quase morre afogado e tem uma pneumonia. Seu pai, preocupado, pensa se a mesma febre que levou sua esposa levará seu único filho, enquanto Val delira e pensa em todas as suas aventuras até então, com Merlin, Arthur, Gawain, Guinevere, Morgana, e sua futura esposa, Aleta das Ilhas Nevoentas

João David começou na EBAL. Aos 19 anos, no final dos anos 50, adaptou e desenhou “O seminarista” pra coleção de clássicos em quadrinhos do Adolfo Aizen. Mas quadrinhos não davam dinheiro, e ele se mudou pra publicidade, como outros mitos da área - trabalhou como assistente, por exemplo, de Shimamoto na mesma agência. Agora, aposentado, vende seus desenhos na feirinha da Praça XV.

Autocaricatura de João David

maio 22, 2012

Livro de Colorir de 1954

O nome do livro era "Listen and Do".

maio 19, 2012

Meu Vídeo no Saite do Globo

Ok, quem não tem iPad já pode ver meu (e do Roger e do Dario) vídeo no saite de O GLOBO. Como de praxe, os curtas que fecham a revista pro tablete da Apple, a Globo a Mais, no dia seguinte se mudam pro portal dos meros mortais.

Não adianta clicar aqui, porque é só uma captura da tela. Vais ter que ir lá no saite do Globo pra ver o filmete. O linque está no último parágrafo da postagem.

O único senão é que, quando codificaram a fita pra subir pra nuvem, eles o fizeram no formato 16 x 9, desatentos à inexistência de câmeras de vídeo widescreen nos anos 80 (final, não início, não sou tão velho assim. Era 1987, pra ser exato). Portanto, cabeças e pés cortados (e alguns belos enquadramentos de sapatos avançando na direção da tela) não são culpa minha, ok? Prometo subir pro VocêTubo depois a nossa inestimável produção, com o aspecto correto. Esse vídeo nunca chegou a ser terminado, entre outros motivos porque a câmera pifou e teve que ir pra garantia. No entanto, guardei a fita e a digitalizei e, agora que fazer cinema ficou ao alcance de qualquer um com um PC e um celular, eu simplesmente pus o lépetope no colo e, enquanto assistia ao futebol, editei as cenas disponíveis de forma a ter uma historinha a mais parecida possível com a intenção original.

Pra ver o vídeo, basta clicar aqui. Não dá pra incorporar no blogue, portanto, assim que subir a coisa toda pro VocêTubo, posto aqui. Mais informações sobre a produção aqui.

maio 18, 2012

Ei, Mãe, Óia eu no Globo otraveis!

Não faz nem um mês que saiu uma página Logo minha no Globo, agora, artista multimídia que sou (hmmm...), é a vez de um vídeo (codirigido com Dario e Roger). Está hoje na revista vespertina Globo a Mais, exclusiva pra iPad, mas amanhã deve estar disponível em algum lugar no saite do jornal. Assim que eu descobrir, posto aqui. Esse aí embaixo é o e-meio que mandei pra apresentar o curta, do qual quase nada foi aproveitado (o Roger mandou um também). Bem, crianças, quem não tem um iPad, pode ter ideia do que vem por aí no blogue com o texto aí abaixo:

Pode soar incrível, mas 25 anos atrás era caro fazer vídeo. Sim, era
inacreditavelmente mais barato do que até um super-8, mas, por
exemplo, comprar uma das primeiras volumosíssimas câmeras VHS que
dispensavam carregar também um gravador a tiracolo custou boa parte do
meu primeiro ano de salário como funcionário público – ainda bem que
eu morava com meus pais. E ainda bem que eu cobrava quase um salário
mínimo para filmar batizados, casamentos e formaturas com ela. Era um
mundo mais selvagem e belo.

Com uma câmera na mão e nada na cabeça, eu, Dario e Roger, cansados da
sequência de comédias satirizando gêneros que havíamos feito,
resolvemos mostrar que, se o negócio era vídeo cabeça, também sabíamos
fazê-lo. Armados com um refletor de 500 watts, algumas lâmpadas
caseiras e uma valente (e pesada) Panasonic NV-M3, capaz de imagem
quase inacreditável para um VHS – muito inferior à de um iPhone –
Roger adaptou um conto meu, mudando praticamente tudo e mantendo
virtualmente apenas um duelo que na minha historinha era um sonho, mas
na versão de nosso amigo (futuro) filósofo, era um mito da Criação.

Sim, pois para ele somente a percepção do Outro e da incompletitude
leva à criação. O Desejo é a o motor e a serpente do Paraíso e é a
frustração e a negação que vão dar origem a um big bang criativo. Ou
pelo menos era isso que ele dizia para impressionar as calouras
(éramos todos estudantes daquela universidade da última crônica do
Arnaldo Bloch).

Hoje em dia a chiquérrima Diesel tem slogans como “Be
stupid”, mas nos estranhos anos 80 até roqueiros queriam citar
filósofos existencialistas. Por algum motivo, filmes antigos – mudos,
monocromáticos, obscuros, estrangeiros – entraram em moda com o povo
cabeça. Expressionismo alemão, a raiz estética do filme noir populado
por Bogart & amigos que tanto amávamos, era uma de nossas
preferências. Daí o duelo se inspirar claramente nas sombras
germânicas dos anos 20. Sem nenhum recurso financeiro, é claro.
Tinhamos a ideia de que, se fizéssemos sucesso, chamaríamos ao nosso
movimento “nadismo” - Uma câmera na mão, nada na cabeça e necas no
bolso.

3c273 é o título da coisa. Ilhas de edição, mesmo para VHS, eram
caríssimas e tinham que ser alugadas – e eles cobravam ainda mais do
que eu para filmar casamento. Para reeditar esse filmete para caber
nesse formato de iPad, usei um velho laptop, adequadamente no meu
colo, enquanto conversava no Caralivro e assistia ao futebol na tevê.
Esse talvez seja o meu maior arrependimento de não ter esperado uns 20
anos para nascer. Já não precisávamos pagar os tubos pela película
(mesmo em super-8), mas VHS também não era barato de editar e
sincronizar som era uma tremenda dificuldade num formato sem trilha
especial para isso (daí nossa preferência por vídeos mudos). Mas num
mundo como o de hoje, onde todo mundo (de classe média) tem em casa
uma central de pós-produção e telefones filmam em alta definição,
nossa turma certamente faria um longa metragem por semana. É uma pena
que a gente não tenha tempo para tanto, mas é da frustração que nasce
a criação e bla bla bla...

maio 17, 2012

Este é um Mundo Aterrorizante, Portanto Vamos Mantê-lo Assim

Matéria publicada originalmente no blogue de história da Editora Record

O blogue publicou não faz muito tempo esta materinha sobre filmetes educacionais americanos dos anos 50 alertando sobre como sobreviver a uma guerra nuclear - bastava abaixar-se e cobrir-se. Hoje pode parecer criminoso que as autoridades responsáveis fossem tão inconsequentes quanto aos efeitos de um holocausto atômico. Mas estava-se em guerra, ainda que numa guerra fria. Muito piores e por si sós uma justificativa para o movimento do politicamente correto eram os curtas de Sid Davis.

Personalidade exuberante e amigo de John Wayne e outros ícones conservadores, Sid Davis começou sua carreira ao saber do sequestro de Linda Glucott, uma menina de seis anos assassinada por Fred Stroble, um famoso caso dos anos 50. Com mil dólares emprestados pelo maior caubói de todos os tempos (sorry, Clint Eastwood), Davis produziu um filmete alertando às crianças que não confiassem em estranhos, The Dangerous Stranger, ilustrando a monótona narração com diversos casos que mostravam alguns pimpolhos sendo levados por desconhecidos, alguns sendo resgatados e outros dos quais nunca mais seus pais e amigos ouviram falar (caramba, essas coisas eram exibidas em escolas!).

Com o milhar de dólares do Duke, Davis lucrou 250 mil (!!!) vendendo o curta para escolas e departamentos de polícia (1). Foi o começo de uma carreira que se estendeu por décadas e rendeu mais de 250 obras, como essa aí abaixo, alertando garotos sobre o pior perigo de todos... os (gasp!)... homossexuais!



Para quem quer saber por que existem coisas como "Paradas de Orgulho Gay", basta prestar atenção à narração monótona explicando o perigo que o pobre garoto está correndo ao entrar no carro do sujeito amistoso - "ele não sabia que Ralph era doente - uma doença não tão visível quanto varíola, mas não menos perigosa e contagiosa: Ralph era homossexual (...)".

Os filmetes de Davis, todos nessa linha, eram famosos também por seu alarmismo. Um de seus curtas mostra um pai carinhoso chegando em casa para ver sua filha correndo em sua direção de tesoura na mão, só para tropeçar e enfiá-la na barriga. Em suma, toda sua obra mostrava que o mundo era um lugar perigoso e inconfiável. Os objetos mais banais, as pessoas mais bem intencionadas, tudo era fonte de medo e pânico. Não confie em nada e em ninguém era o subtexto de todas as suas produções.

O que acaba soando como um paradoxo. Davis era obviamente um conservador. No entanto, em seu ponto de vista, o mundo era um lugar aterrador e perigoso. Então por que tanto esforço em CONSERVAR um planeta como esse? Não era hora, talvez, de uma reforma? De se tentar coisas novas? Uma abordagem diferente?

E foi o que acabou acontecendo, apesar de todos os conselhos de Sid Davis. Sua visão no fundo pessimista do sonho americano acabou ultrapassada pelos tempos e pelos novos comportamentos. Mas tão exibidos foram seus filmetes que deixaram uma impressão indelével na cultura americana, sendo alvo de sarcasmo até hoje em séries como OS SIMPSONS ou comédias como COM A BOLA TODA. As crianças de hoje em dia têm discernimento não só para lidar com tesouras e com a internet como até com o (involuntariamente) cínico e niilista Sid Davis.

(1) Também marcaram época na cultura americana os curtas "educacionais" sobre comportamento no trânsito feitos pela polícia em que vítimas horrivelmente mutiladas de batidas, presas nas ferragens, eram mostradas longamente para que as crianças aprendessem como dirigir direitinho.

maio 16, 2012

Feirinha da Praça XV

  • Wilson de Moraes foi produtor musical por mais de 40 anos. Hoje em dia ronda a feirinha da Praça XV com seu CD com as primeiras gravações de artistas famosos - Orlando Silva, Bob Nelson, Emilinha, Altemar Dutra e muitos outros. Não pra vender, só pra dar pra moças bonitas. Eu não ganhei um exemplar.


maio 15, 2012

A Feiticeira


Antes da fama não, porque ela já nasceu famosa, filha do Robert Montgomery. Mas antes do papel que a imortalizaria.

maio 14, 2012

maio 13, 2012

Luz nas Trevas


Estreou nos cinemas a fita LUZ NAS TREVAS, a continuação do amado clássico udigrudi O BANDIDO DA LUZ VERMELHA. Esta é a crítica que eu fiz pra Revista Zé Pereira quando o longa passou no FestRio de 2010:


"Luz", para os íntimos. Afinal, era como a hilariante locutora de "O bandido da luz vermelha" explicava para o público. Daí que o título desta continuação não é só pra dizer que existe salvação, mas que para alcançá-la, o protagonista vai ter que atravessar um inferno. Bem-vindo à visão de um brilhante homem doente, pesando sua mortalidade com quase sessenta anos, mais de três décadas depois de ter concatenado o maior clássico do udigrudi da Boca do Lixo ainda rapazola de vinte aninhos.

Mas Rogério Sganzerla não viveu o suficiente para por de pé este estimado projeto, e ele acabou na mão da starlet do longa original, a lendária musa do cinema marginal, Helena Ignez, sua viúva, que há dois Fest-Rios mostrou intensidade e talento fazendo de "A canção de Baal", com parquíssimo orçamento, quase uma viagem no tempo a anos mais cabeça. "Quase" porque longe de ser um fóssil, o filme tem uma linguagem atualizada e deixou o povo que adora o meliante com a lanterna encarnada cheio de água na boca. Afinal, com acesso a muito mais recursos do que o original, o roteiro de Sganzerla e uma diretora talentosa afinada com as ideias da trama, a fita ameaçava tornar-se referência de época como sua primeira parte.


Paulo Vilaça e a própria Helena Ignez no filme original

Sim, porque "O bandido da luz vermelha" é uma colagem vibrante e irresistível do final dos anos 60. Cheia de politização, revolução armada, revolução sexual, existencialismo, jovem guarda, bangue-bangue, filme de monstro japonês, rádio, tevê, cafonice, símbolos de status, a fita é como "Ulysses" ou "A divina comédia" uma viagem à sua época, um dos melhores retratos do Brasil em processo de urbanização e industrialização, cheio de vigor, originalidade, revolta e irreverência.

E é justamente essa irreverência que faz mais falta na continuação. A abertura com a marquise luminosa levou o blogueiro emocionado à beira da poltrona e deixou claro logo de cara o clima mais místico do longa: o anúncio avisava que o filme era um melodrama e seu protagonista era infinito. E, para explicitar ainda mais a diferença de tom, eis que entra o novo intérprete do marginal da lâmpada rubra, Ney Matogrosso, trazendo o primeiro problema da obra: ele está A-T-U-A-N-D-O. Inclusive está atuando bem, mas a cada aparição do ex-seco & molhado o público pode perceber todas as fibras do seu ser flexionando-se e contorcendo-se em agonia enquanto ele tenta demonstrar P-R-O-F-U-N-D-I-D-A-D-E e logo os espectadores começam a sentir falta do tranquilo desprezo agressivo e viril de Paulo Vilaça (será que Tarcísio Meira não toparia?).

Essa reverência na atuação de MT contagia boa parte da continuação, que vai aos poucos afundando-se em referências à sua alma mater, como o político populista, ou a viagem a Santos, ou o policial corrupto, sem contar, é claro, a marquise luminosa e os locutores de rádio. A televisão aparece muito pouco e não há referência à internet. Luz está reavaliando sua vida e o passeio é mais pelo passado emocional do personagem do que pela metrópole BRIC. O delinquente com a luminária escarlate da vez é o filho dele, protegido de São Jorge, que toma o caminho do crime para escapar da miséria, mas é muito menos angustiado e politizado do que o pai - sua relação com a prostituta/namorada da vez é muito mais saudável (como ele mesmo diz, ele faz tudo com amor, inclusive amor) e ele chega a prometer à moça, como os velhos malsinados caubóis ou gangsteres da velha Hollywood que apenas mais um trabalho e uma grana e ele larga essa vida.



É claro que quando você encontra na rua e começa a namorar uma prostituta com o visual e a personalidade da Djin Sganzerla você diz qualquer coisa pra ela. Não fosse a pontinha de Mojica Marins e ela não teria rivais na fita. A moça continua ótima atriz, sem esforço, com um jeitão irresistível e recomenda-se aos cardíacos que abandonem o recinto quando ela começar a tirar a roupa - ou mesmo dançar só de lingerie para o facínora com a lâmpada com o mais baixo comprimento de onda luminosa visível. Por falar em dançar, a trilha sonora do longa é tão irresistível quanto a Djin e ajuda a evocar o clima do original e a jornada sentimental de Luz nas trevas do presídio.

Justamente essa jornada e a ênfase na salvação de Jorge Prado, mais as constantes referências e a reverência pela fita original acabam roubando a produção do vigor daquela e ralentando o ritmo - alguns incidentes são altamente episódicos e parecem aparecer somente para homenagear a alma mater, como a invasão da casa do político. E um roteiro altamente estilizado como este pede a alta voltagem, por exemplo, de "A canção de Baal". Ou então dos últimos 15 minutos, quando finalmente montagem, atuações e trama decolam com a intensidade quase perfeita fazendo um final quase inesquecível - o herdeiro semialienado de Luz reinando no inferno, enquanto Jorge Prado se redime e se torna o somatório de toda a sua existência e explode num excelente aproveitamento do cantor-ator e estado do centro-oeste brasileiro. O blogueiro só não achou irretocável porque quando ouviu rotores de helicópteros atrás dele nas caixas surround, ficou esperando as aeronaves sobrevoando o protagonista no topo de um (provável) arranha-céu, com naves espaciais e afins cruzando os ares. Eu sei que isso é caro, mas não dava pra fazer uma computação gráfica meio picareta?

De qualquer forma, a sequência final é irresistível e deixa o público saindo do cinema eufórico. A diretora Helena Ignez foi musa de vários diretores e adolescentes, mas em vez de com a idade tentar tornar-se uma boneca de cera embotocada, mostra que aproveitou bem a vida e que ainda está numa excelente forma - como Prado, ela é orgulhosamente a soma de toda a sua existência. Seus filmes refletem sua sinceridade, seu talento, seu encanto e, mesmo que não tenha alcançado seu potencial nesta continuação, é mais por ter tentado medir-se com os gigantes. Como em seminários de autoajuda, ela visou as estrelas, falhou, e ainda assim fez uma fita interessante, cheia de qualidades e acima da média.

Feirinha da Praça XV - e Arredores