setembro 10, 2012

Duck and Cover!

Você está andando pela rua quando vê uma explosão nuclear. O sinistro cogumelo atômico ganha forma nos céus e imediatamente a lembrança do que uma pequena pastilha de césio fez em Goiânia no final dos anos 80 vem à mente. O que fazer? O que fazer?

Abaixe-se e cubra-se, ora!

Basta uma rápida olhadinha nos quadrinhos, filmes e literatura pulp dos anos 50 para dar ideia da obsessão paranoica da época - o holocausto nuclear. Não era para menos, os russos tinham a bomba e comunistas simplesmente não eram pessoas como eu ou você. Eram monstros sanguinários. O mundo podia acabar a qualquer momento, como numa guerra. Mas sem batalhas ou combates. Era apenas uma Guerra Fria.

Mas mesmo sendo fria ela acabou disparando muitos dos mesmos efeitos das guerras mundiais: a sensação de fim iminente alimentou a busca pelo prazer já e agora, levando ao materialismo consumista e à Revolução Sexual. Pessoas com mais tutano voltaram-se contra o sistema, dando os primeiros passos para o surgimento da contracultura. E, de quebra, os astronômicos gastos com sistemas de defesa desenvolveram a tecnologia e a economia. Aviões caríssimos entravam em serviço e saíam em apenas cinco anos, já obsoletos. Submarinos, porta-aviões e mísseis eram construídos em ritmo menor do que os de períodos de conflito, mas com custos infinitamente maiores.

Mas o governo estava atento à paranoia da sociedade e fez de tudo para tentar amenizá-la. E, sendo um governo americano, a melhor forma de atingir a sociedade era através de cinema. O curta educacional abaixo, de 1951, foi exibido tanto em colégios, igrejas e afins que tornou-se um clássico. Hoje do inacreditavelmente ingênuo, mas foi realmente feito para ser levado a sério. Em caso de guerra nuclear, aconselha o filmete, abaixe-se e cubra-se! E está tudo bem. Apesar do que se ouve por aí, É possível sobreviver a uma bomba atômica.



Obviamente outros ramos da cultura pop não passaram desapercebidos pelo governo. Cartilhas em quadrinhos também foram feitas às pencas. Confira esta aqui, onde um palestrante da Defesa Civil ensina à garotada como se portar em caso de guerra atômica - sempre buscando abrigo contra o calor e a radiação.

O impoluto palestrante, com seu terno jaquetão, seus cabelos brancos e sua forma rotunda denotando uma certa prosperidade é um resumo da respeitabilidade nos anos 50. A separação de tarefas por sexos - as meninas distribuem a comida - também data bem a coisa. E a comparação do medo das bombas atômicas com o medo de outras armas que não se mostraram tão temíveis assim é de uma má intenção ímpar. Não à toa surgiriam nessa época coisas como o movimento beatnik e, principalmente, a revista Mad e as outras de terror e ficção científica da EC Comics, mostrando às crianças que a sociedade não era tão respeitável e respeitadora assim. O povo que cresceu sob essa sombra é que iria revolucionar os costumes e a maneira de pensar na década seguinte. Porque eles sabiam que seus problemas não podiam ser resolvidos simplesmente abaixando-se e cobrindo-se, mas sim atacando-os de frente.

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